Ídolos são parte importantíssima de qualquer organização esportiva. São aqueles que representam as glórias, tradições e valores dos clubes e, nesse assunto, poucos têm tanto repertório e importância quanto o Vasco. E é impossível pensar em ídolos vascaínos sem pensar em Edmundo Alves de Souza Neto. São mais de 100 gols, 6 títulos e 5 passagens pelo Gigante da Colina.
Dentre inúmeros momentos marcantes que o fizeram ser, incontestavelmente, um dos grandes nomes da história da instituição, o título do Campeonato Brasileiro de 1997 possui enorme destaque. O atacante, que vestia a camisa 10, foi o grande nome do Vasco naquele ano, sendo eleito o melhor jogador do Brasil pelo prêmio Bola de Ouro, da Placar, e o melhor atacante das Américas, pelo El País, fora a artilharia do Campeonato Brasileiro, com 29 gols em 28 jogos, e o título da Copa América com a seleção brasileira, praticamente carimbando seu nome na Copa do Mundo que aconteceria um ano depois. Foi um ano incontestável do Animal, que teve uma de suas melhores noites da carreira no dia 11 de setembro, contra o União São João.
Edmundo e seus 6 gols contra o União São João
12ª rodada do Campeonato Brasileiro, uma quinta-feira chuvosa e esquisita no Rio de Janeiro, um jogo a noite com o Vasco numa fase legal, mas ainda não tão empolgante àquela altura e contra um adversário que, em todas as rodadas seguintes, ocuparia a lanterna do campeonato. Além disso, só 1.300 torcedores presentes. Tudo indicava uma noite chata que, apesar da muito provável vitória, seria só mais um dia comum.
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Entretanto, não era o que o camisa 10 do Vasco pensava. Edmundo entrou, como sempre, ligado no jogo e já deu indícios de uma noite histórica, quando, aos 27 segundos de jogo, abriu o placar e quebrou o primeiro recorde da noite: o gol mais rápido daquele Campeonato Brasileiro. Mas, mesmo com esse início triunfal, o 1º tempo foi como aquela noite de quinta-feira: entediante. E assim foi até o começo do 2º tempo, quando Balu, zagueiro adversário, foi expulso. Ali, Edmundo deslanchou.
Foi aos 23 minutos do 2º tempo que o atacante começou seu show particular, abrindo 2-0 pro Gigante. Era a noite do craque, teve gol driblando o goleiro, ajudando a roubar a bola do arqueiro adversário, gol dando meia lua e chutando com voleio… tudo. Antes de fazer seu 6º e último gol para sacramentar de vez seu nome na história, ainda se deu ao luxo de sofrer e perder um pênalti. 6-0 no placar.
“Edmundo é craque. Desequilibra. É fora de série.” Assim definiu o lendário Antônio Lopes, que havia ingressado há pouco na sua 3ª passagem como treinador pelo clube e, quando perguntado sobre a disputa do título brasileiro daquele ano, disse que era algo que ele ainda não pensava. Meses depois, o treinador ganhou seu primeiro título nacional no cargo de técnico do Gigante, treinando um time comandado em campo por Edmundo, que buscava calar os críticos – sim, existiam! – depois da “vergonha” passada no Carioca do mesmo ano, quando rebolou contra o Botafogo e depois perdeu a final, com o destaque para sua icônica dupla de ataque, Evair, com quem já tinha ganho 2 títulos brasileiros pelo Palmeiras. Ramon Menezes, Juninho Pernambucano, Luisinho, Nasa, Felipe, Carlos Germano, Odvan, César Prates, Mauro Galvão, Pedrinho, Mauricinho… era um timaço que, mesmo com vários craques, pareciam meros coadjuvantes jogando ao lado de Edmundo. Conhecido por ser polêmico, Edmundo preferiu nem dar entrevistas ao fim daquele 6-0 contra o União São João de Araras. Parecia só mais um dia normal na vida de um talento extraordinário.
São longos e intensos 25 anos – sem nem falar nos 38 anos de Brasileirão anteriores à 1997 – sem ter um jogador sequer capaz de atingir a marca do Animal. Em vários campeonatos brasileiros, a maior goleada do ano sequer chegou a 6 gols ou mais, à exemplo dos últimos 2 torneios, quando as maiores goleadas foram 5-0.
Grandeza é algo relativo e subjetivo no futebol, nunca será possível desenvolver métricas para esse tipo de avaliação e sempre existirão discordâncias nesse aspecto. De qualquer maneira, uma das unanimidades entre qualquer pessoa que conhece a história do Edmundo, do Vasco e do futebol brasileiro, é de que o craque é gigante na história do clube e na do esporte nacional. Feitos como o daquela noite chuvosa de 11/09/1997 ficarão para sempre marcados e talvez nunca tenhamos dimensão do quão grande foi. Ao Edmundo, só nos cabe agradecer por ter feito esse clube um pouco mais gigante do que já era.
Por estagiário Caio Azevedo