ETERNA FÊNIX
Leandro A. Rodrigues
No último dia 08 de junho, houve a comemoração de aniversário dos dez anos da conquista da Copa do Brasil. Sou, provavelmente, um dos grandes incentivadores da valorização das conquistas do passado como elemento de preservação da história. Como sempre falo com meus alunos nas aulas de Literatura, não se constrói o futuro, aniquilando o passado.
Ao ler matérias que trouxeram à baila as lembranças daquele dia, retrocedi no tempo. Lembrei-me de que, naquela belíssima noite, participei de uma banca de monografia e saí da universidade às dez horas da noite. Lembrei-me de que o pai de minha orientanda, também vascaíno, antes da explanação oral de sua filha, dirigiu-se a mim e, em tom de brincadeira, questionou-me: “Logo hoje, professor? A banca dela não podia ser em outro dia?”. Sorri e falei com ele que eram os ossos do ofício. Lembro-me de que esteve ao meu lado, naquela banca, o caríssimo Frei Ronaldo, também vascaíno. E, ao final de suas considerações, não se fez de rogado: “Agora, acho que podemos ir embora para assistirmos ao título do Vasco”. Lembrei-me de que o outro professor da banca era o meu querido amigo, professor Marcelo, tricolor doente, que, antes de fazer as suas considerações, já anunciou: “os vascaínos podem ficar tranquilos, pois serei breve”. Tudo isso passou como um filme pela minha cabeça.
Lembrei-me de que cheguei a minha casa, quando estava começando o segundo tempo. O Coritiba estava vencendo por dois a um. Todos em minha casa já estavam dormindo. Meus gêmeos tinham um pouco mais de dois anos. Lembrei-me de que, após o gol do Éder Luís, a minha comemoração teve de ser silenciosa, e o meu grito, por mais paradoxo que seja, teve de ser calado. Ao longe, para expurgar a minha possibilidade de extravasar, os fogos pipocaram e os gritos da rua chegaram abafados até o interior de minha casa. Lembrei-me de que, no dia seguinte, fui para o trabalho com a bandeira do Vasco agasalhando o capô do meu carro.
Ao mesmo tempo que essas lembranças todas vinham a minha mente, houve um misto de alegria e de tristeza. Alegria, pois, como diz a música, “relembrar é viver”. Tristeza, pois, naquele momento, em minha inocência e fanatismo cruz-maltino, acreditava seriamente que o pior já tinha passado, que o martírio da série B havia ficado para trás e tudo isso havia servido de lição para não cometermos mais os mesmos erros no futuro. Imaginei o Vasco como uma Fênix que, vitoriosa, renasce das próprias cinzas para tornar-
se mais bela e mais forte do que antes. Então, em meu íntimo e na solidão das minhas lembranças, chorei, perguntando-me: até quando seremos eterna fênix?
Saudações vascaínas!