Papo na Colina conversou com Lorran, homem-trans que participou do lançamento de camisa histórica em homenagem à comunidade LGBTQIA+
O final de semana no futebol foi marcado por diversas homenagens ao dia internacional do Orgulho LGBTQIA+, uma das causas mais delicadas no mundo do esporte.
Ontem (27), o Vasco escreveu mais um capítulo em sua história, se tornando o primeiro clube brasileiro a lançar uma camisa oficial de jogo com as cores do movimento.
Na segunda (28), data em que se comemora oficialmente essa data tão importante, o Papo na Colina preparou uma entrevista especial com um vascaíno que participou do lançamento da camisa.
Conheça o Lorran, homen trans, de 26 anos, morador do Rio de Janeiro, vendedor da loja Gigante da Colina do Méier e modelo oficial do lançamento da camisa
O que te fez torcer para o Vasco e como descobriu seu amor pelo clube?
– Minha história com o Vasco é desde os meus 4 anos de idade. Meu pai botafoguense, me levou em uma loja na época oficial como a FC sabe?! E falou para eu ir no final do corredor e pegar a camisa enquanto ele me olhava (segundo relato dos meus pais hoje em dia porquê eu não lembro nada, risos.) Com isso, eu acabei pegando a do Vasco que por sinal era uma da Kappa de 98, enquanto ele tentava me explicar que não era aquela a do Botafogo, minha mãe relata que eu chorava muito que não queria trocar de camisa e desde então me descobri Cruzmaltino.
Qual foi o seu sentimento quando soube da campanha do Clube? O que você acha que essa campanha pode ajudar na causa?
– Sentimento que resume é de gratidão ao clube e a todos os envolvidos. Isso incluí minha equipe que é maravilhosa, ali na loja eu me sinto em casa por ter um ambiente super agradável. Ao Renato que é o dono que a loja é um reflexo do que ele é família/humano e ao pessoal do licenciamento como o Kadu e Gustavo, Vitor do marketing também. Essa campanha pode ajudar em muitos aspectos um deles é a inclusão das pessoas trans no esporte, no trabalho. A inclusão para se sentirem acolhidas dentro dos estádios de futebol sem medo de ser julgado ou apanhar apenas por não ser o “tradicional” perante a sociedade e a tendência dessa campanha junto do Vasco antes de mais nada é conscientização da sociedade.
Lorran relata que não se sentia a vontade de ir em jogos por não ter seus documentos retificados: “Não costumava ir com frequência aos jogos no estádio, um dos motivos é que eu me sentia constrangido por ainda não ser retificado nos documentos, morria de vergonha de ser revistado e ter que apresentar os documentos (Hoje em dia eu sou retificado, porém, entrou a pandemia)”
Agora com os documentos retificados, pós pandemia, qual o seu pensamento na questão de ir em São Januário após esse seu relato e principalmente por toda essa campanha do Clube? Sentimento de alívio?
– Sentimento de conforto e missão concluída com sucesso. Pós pandemia o primeiro jogo eu faço questão de estar lá e com essa camisa como a segunda resposta histórica do Vasco – disse.
Lorran também compartilhou como foi receber o convite para participar do lançamento: “Eu estava trabalhando quando recebi essa notícia pelo dono do gigante da colina Méier, ele perguntou se tinha algum problema passar o meu número para o pessoal do marketing do Vasco pois eles estavam a procura de pessoas que são do meio para ter mais a cara da campanha e nada superficial. Ficaram sabendo que eu era um homem trans, e com isso, o Kadu me procurou, e em seguida o Gustavo entrou em contato comigo. Claro que eu aceitei de cara, a minha reação foi de surpresa porquê entre tantas pessoas logo eu? Primeira coisa que pensei, depois de gratidão por esse momento único que estava vivendo, ansioso para pisar em São Januário para representar uma legião de pessoas do meu público LGBTQIA+ e sinceramente? Nunca imaginei que fosse viver isso.
Como você vê nos próximos anos o preconceito nos estádios? você acha que vai haver uma grande redução ou vai acalorar mais ainda o preconceito?
– Eu tenho o costume de dizer que o preconceito vem da falta do conhecimento, ou melhor, da falta de vontade de buscar o conhecimento até porquê hoje podemos rodar o mundo com o celular na mão. O Vasco veio com tudo para que tenha essa redução e até mesmo acabar o preconceito, afinal, é o clube do povo e quem foi ou é contra essa campanha do Vasco deve rever seus conceitos sobre se realmente é torcedor do clube pois somos os pioneiros contra qualquer ato de racismo e se é preconceituoso(a) em questão de orientação sexual e identidade de gênero não casa com o clube que é pioneiro nessa luta de respeito e igualdade.
Estamos rodando o mundo após escrever mais um capítulo na nossa história. A comemoração do Cano foi um dos pontos principais, como você se sentiu naquele momento após ter vivido todo o movimento?
– Eu só chorava. A emoção tomou conta e surpreso pela atitude do Cano (sabíamos como ele é com sua descrição) mas dentro do campo ele se transformou e ele marcou não apenas um golaço dentro de campo como fora também principalmente com a torcida LGBTQIA+ (lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais, Não-Binárias e outras orientações e identidades.)
https://www.youtube.com/watch?v=yiONRP0XciY