ATLETAS RENOMADOS, MEDALHAS, CPI, ESCANDÂLOS, PENHORAS E BRIGAS COM O COB E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ENVOLVERAM O FAMOSO PROJETO OLÍMPICO DO VASCO. CONFIRA OS 165 ATLETAS OLÍMPICOS VASCAÍNOS.
Os Jogos Olímpicos de Sydney são marcantes para o Vasco. Na época, o Vasco teve o “Projeto Olímpico Vasco”, que deixou profundas discussões nos anos seguintes. Afinal, foi um fiasco ou um momento de glória para o clube?
Entre 1999 e 2000, ninguém investiu mais no desporto olímpico brasileiro do que o Vasco. O clube superou até o Comitê Olímpico Brasileiro. Na época, o Vasco investiu cerca de R$ 30 milhões nos esportes olímpicos e amadores, mais que os R$ 23 milhões do COB. Com direito a convocação de 94 atletas para as Olimpíadas de Sydney, o Vasco fez história jamais alcançada por algum clube no cenário nacional. O investimento foi tão alto que provocou conflitos entre dirigentes, atletas, técnicos e o COB, além de protestos contra até o próprio presidente da república, na época, Fernando Henrique Cardoso. Como o Vasco pode investir tanto dinheiro e a federação não? Além disso, tinha a questão de o COB não permitir que atletas não mostrassem as marcas que lhes patrocinavam.
No basquete, o Vasco montou uma seleção tanto no feminino, quanto no masculino. No masculino, a equipe dirigida pelo técnico Hélio Rubens e liderada pelo jovem Nenê foi campeã brasileira em 2000 e 2001, porém a seleção brasileira não conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos. No feminino, o Vasco foi campeão brasileiro (2001) e da liga sul-americana em 2002. O clube enviou inúmeras atletas para os Jogos Olímpicos, como Janeth, Claudinha e Kelly que conquistaram o bronze olímpico. A equipe que tinha um orçamento de 150 mil reais mensais era dirigida pela lendária Maria Helena, como mostra reportagem de Lúcio de Castro em 2000:
Na natação, o Vasco fez um investimento de peso. Contratou atletas de renome nacional e internacional, como Gustavo Borges, Luiz Lima, Inge de Bruijn e Yana Klochkova. Inclusive, a holandesa Inge de Bruijn conquistou três medalhas de ouro e uma medalha de prata em Sydney.
Madame Butterfly, assim conhecida na Holanda, quebrou recordes vestindo a toca do clube. Em 2000, Inge de Bruijn quebrou o recorde mundial dos 50 metros livres, no Parque Aquático Júlio de Lamare, no Rio de Janeiro, e o recorde dos 200 metros borboleta. Ao contrário de alguns outros atletas, a atleta era patrocinada ocasionalmente pelo clube. O Troféu Finkel que ela bateu o recorde mundial mesmo aconteceu poucos meses antes dos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000.
Inge foi eleita a “Nadadora Mundial do Ano” (“Swimmers of the Year” concedido pela revista estadunidense Swimming World), consecutivamente, em 2000 e 2001 e “Nadadora Europeia do Ano” (European Swimmers of the Year, concedido pela mesma revista) entre 1999 e 2001.
Outro nome relevante da natação é Edvaldo Valério, que foi o primeiro atleta negro brasileiro da natação a disputar os Jogos Olímpicos. Na época, o clube criou até uma sede na Bahia para desenvolver o esporte no estado. O atleta de origem humilde fez bonito em Sydney e conquistou a medalha de bronze no 4x100m livre. Carlos Jayme e Gustavo Borges foram outros dois atletas vascaínos a conquistarem medalha no revezamento. Nas Olímpiadas de 2000, outros dois nadadores que competiam pelo Vasco disputou os jogos pela Ucrânia: o nadador Denys Sylantyev, que foi medalha de prata, e Yana Klochkova, que ganhou duas medalhas de ouro e uma de prata. Além dos ucranianos, uma atleta russa que competia pelo Vasco também disputou os Jogos Olímpicos de Sydney: Nadezhda Chemezova (Em alguns jornais, aparece “Nadejda Tchemezova”, é a mesma atleta).
Algo que deve ser lembrado é que alguns atletas não eram do Vasco da Gama, pois não dava para serem federados pelo clube nas confederações, como os casos do hipismo e da vela, mas o cruzmaltino era um copatrocinador destes atletas, que sustentava estes com verba do clube ou patrocinadores. Em outros casos, o Vasco fez convênios com equipes tradicionais, é o caso do Funilense no atletismo, que teve Maurren Maggi e Claudinei Quirino patrocinados pelo Vasco.
O Vasco pagava viagens para treinamentos e torneios, oferecia a estrutura de São Januário para treinamentos e aperfeiçoamentos. O investimento realizado acabou gerando várias dívidas ao clube e provocou diversas críticas ao presidente Eurico Miranda, que foi eleito em 2001, mas que já nos anos anteriores cuidava do “Projeto Olímpico do Vasco”.
Outro ponto a ser ressaltado é que o Vasco não investia apenas em esportes olímpicos, o Vasco no final do século XX teve grandes atletas, campeões nacionais e internacionais, em esportes como o boliche e o futsal.
O número de medalhas também foi questionado, mas Eurico respondia que a representatividade do Vasco havia sido ótima nos Jogos Olímpicos e que não apenas o ouro importava, mas as medalhas de prata e bronze também tinham a sua relevância.
Em 2001, a falta de salários e de patrocínios para sanear as dívidas com os atletas provocou uma grande debandada em vários esportes, como demonstra reportagem do Jornal do Brasil de 2001. Na época, o Vasco cortou os gastos com estrelas internacionais, que recebiam em dólar, e geralmente para disputarem competições ocasionais. Algumas como as jogadoras de basquete Elena (Uzbequistão) e Astou (Senegalesa) tinham contratos “mais longos”.
O “Projeto Olímpico do Vasco” em 2000 é tão curioso, que envolveu até a Polícia Federal e uma CPI do Senado, além deles, jornalistas foram proibidos de cobrir o clube. Na época, atletas como o nadador Luiz Lima, que mais tarde penhorou 1,5 milhão de reais da verba do patrocínio da BMG em 2011, defendeu o “Projeto Olímpico do Vasco” afirmando que o clube estava sendo perseguido por aqueles que não quiseram patrocinar a ida e o desenvolvimento dos atletas para os Jogos de Sydney em 2000. Os atletas que permaneceram no clube das diversas modalidades chegaram a marchar contra as investigações e as críticas que o clube vinha recebendo por parte da imprensa.
No final das contas, o que se sabe é que o “Projeto Olímpico do Vasco” deixou inúmeras dívidas, Eurico dizia que o projeto se tornou inviável por conta das perseguições ao clube, o clube recebia patrocínios irrisórios que não conseguiam manter tantos atletas talentosos. Para piorar, após os Jogos Olímpicos a parceria com o Bank of América, principal patrocinador do clube na época, chegou ao fim.
O projeto de Eurico rendeu medalhas, como Adriana Behar e Shelda (prata), do vôlei de praia; André Domingos, Claudinei Quirino, Édson Luciano, Vicente de Lima e Cláudio Souza (prata), do atletismo; Raquel (bronze), do voleibol; Zé Marco e Ricardo (prata), do vôlei de praia; Torben Grael e Marcelo Ferreira (bronze) e Robert Scheidt (prata), da vela; Rodrigo Pessoa (bronze), do hipismo; além das atletas da natação.
Imaginando-se que o Vasco da Gama fosse um país, o mesmo encerraria a sua participação na 15ª posição, inclusive à frente do Brasil, se fosse contabilizado uma medalha por atleta em todos os casos (5 ouros, 13 pratas e 10 bronzes). Dessa forma, numa classificação entre os maiores medalhistas da competição, o cruzmaltino seria 11º, quase entrando no Top-10. Já fazendo a comparação, usando como critério oficial do COI, o Vasco seria o 17º no quadro de medalhas. Em quantidade de medalhas, o clube manteria a mesma posição dentro da classificação final (17º).
Nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, existe uma divergência em relação ao número de atletas. Algumas matérias consideram que o Vasco enviou 4 atletas (não contabilizando Geisa Coutinho, Márcia Narloch e Marlene Furtunato), enquanto outras dizem que o Vasco enviou 7 atletas vascaínos, são eles: Geisa Coutinho (Atletismo – atualmente está competindo as Olimpíadas de Tóquio), Márcia Narloch e Marlene Furtunato (Atletismo), Thiago Gomes e José Carlos Sobral (Remo) e Adriana Behar/Shelda (Vôlei de Praia), que ganharam a medalha de prata.
Em 2008, os Jogos Olímpicos aconteceram em Pequim e novamente o Vasco enviou atletas, desta vez, todos do remo: Camila Carvalho, Fabiana Beltrame, Thiago Almeida e Thiago Gomes.
Nos Jogos Olímpicos de 2012, o Vasco enviou Rômulo (futebol), que foi medalha de prata, e os argentinos Cristian Rosso e Ariel Suarez (remo), além de Aldemir Júnior (atletismo – o atleta está competindo em Tóquio 2020).
Maycon e Tânia Maranhão, do futebol feminino, chegaram a estarem nas primeiras listas da seleção, mas acabaram sendo cortadas da lista final. Kyssia Cataldo, do remo, também se classificou para os Jogos Olímpicos de 2012, mas em abril (meses antes dos Jogos Olímpicos) acabou se transferindo para o Flamengo. Na Gávea, foi pega no exame antidoping e acabou não disputando os jogos de Londres.
Em 2016, o Vasco voltou a brilhar e alcançar o lugar mais alto do pódio com o zagueiro Luan, que hoje está no Palmeiras. Aldemir Júnior (atletismo) foi novamente para os jogos olímpicos ao lado de Sérgio Sasaki, da Ginástica Artística, que conseguiu a 9ª posição na final individual geral, a melhor posição brasileira na história.
Em 2021, o Vasco voltou a enviar mais dois atletas do futebol: Lucão (goleiro) e Ricardo Graça. Com os dois, o Vasco enviou segundo os registros encontrados (o número pode ser maior)
1920 – Angelo Gammaro (Remo)
1932 – Vasco de Carvalho, Amaro Miranda, Claudionor Provenzano, Francisco Carlos de Bricio, Joaquim Faria, José Pichler, José Rodrigues Mó, Adamor Pinho (remo), José Xavier e Mário de Araújo (atletismo), Luiz Henrique da Silva (Polo Aquático)
1936 – Antônio Damasso, Dalmo de Oliveira, Oswaldo Ignácio (atletismo), Adamor Pinho e Frederico Tadewald (remo)
1948 – Alfredo da Motta (basquete/bronze), Geraldo Oliveira (salto triplo), José do Nascimento (boxe)
1952 – Hélcio Buck (salto triplo), Carlos Alberto, Adésio, Jansen, Vavá (futebol).
1956 – Edson Bispo (basquete), Nelson Guarda e Ruy Kopper (Remo); Adhemar Ferreira da Silva (atletismo)
1960 – Anubes Ferraz (atletismo), Wanderley (futebol), Ernesto Neugebauer e Waldermar Scovino (remo)
1964 – Paulino Gonçalves (remo)
1972 – Roberto Dinamite (futebol)
1976 – Milton Jorge (saltos ornamentais), Rui da Silva e Dalmo da Silva (atletismo).
1980 – Milton Jorge (saltos ornamentais) e Milton de Castro (atletismo)
1984 – Cyro Delgado (natação)
1988 – Waldemar Trombetta, Oswaldo Kuster, Fernando Fantoni, Marcos Arantes, Ricardo de Carvalho, Ronaldo de Carvalho (remo), Romário, Giovane, Mazinho (futebol)
1996 – Meg, Marisa, Leda Maria, Pretinha, Fanta, Suzy (futebol) e Oswaldo Kuster (remo)
2000 – Adriana Behar - Vôlei de Praia (Prata)
Agnaldo Magalhães - Boxe
Alexandre Lee - Judô
Alexandre Parededa - Vela
André Domingos - Atletismo (Prata)
André Fonseca - Vela
Andreia dos Santos (Maycon) – Futebol
Andréia Suntaque - Futebol
Armando Barcellos - Triatlo
Carla Moreno - Triatlo
Carlos Jayme - Natação (Bronze)
Carmem Silva - Taekwondo
Carolina Moraes - Nado Sincronizado
Cassius Duran - Saltos Ornamentais
César Quintaes - Natação
Chana - Handebol
Chicória - Handebol
Christoph Bergmann - Vela
Cidinha - Futebol
Cláudia Neves (“Claudinha”) - Basquetebol (Bronze)
Claudinei Quirino - Atletismo (Prata)
Cláudio Souza - Atletismo (Prata)
Cleiton Conceição - Boxe
Cristina Mattoso - Vela
Daniel Hernandes - Judô
Denys Sylantyev – Ucrânia (Prata)
Édson Luciano - Atletismo (Prata)
Eduardo Fischer - Natação
Edvaldo Valério - Natação (Bronze)
Emanuel - Vôlei de Praia
Eronilde Araújo - Atletismo
Elissandra Regina (Nenê) – Vasco
Fabíola Molina - Natação
Fernanda Oliveira - Vela
Giovane Gávio - Voleibol
Gustavo Borges - Natação (Bronze)
Guto Campos - Canoagem de Velocidade
Hélton - Futebol
Hudson de Souza - Atletismo
Hugo Hoyama - Tênis de Mesa
Inge De Bruijn - Natação (3x Ouro)
Isabela Mores - Nado Sincronizado
Janeth Arcain - Basquetebol (Bronze)
Joana Cortêz - Tênis
José Albuquerque - Boxe
Kelly - Basquetebol (Bronze)
Kiko Pelicano - Vela
Laudelino Barros - Boxe
Leonardo Costa - Natação
Lígia Silva - Tênis de Mesa
Loiola - Vôlei de Praia
Luciana Alves - Atletismo
Luiz Lima - Natação
Marcel Aragão - Judô
Marcelinho - Voleibol
Marcelo Ferreira - Vela (Bronze)
Márcio Simão - Atletismo
Marco Martins - Esgrima
Maria Elisabete Jorge - Levantamento de Peso
Maria Kahe - Vela
Mariana Ohata - Triatlo
Marília Gomes - Ginástica Artística
Maurício Santa Cruz - Vela
Maurren Maggi - Atletismo
Max - Voleibol
Nadezhda Chemezova – Natação (Rússia)
Nélson Júnior - Atletismo
Osmar Barbosa dos Santos - Atletismo
Osmiro Silva - Atletismo
Pretinha - Futebol
Raphael Oliviera - Atletismo
Raquel - Voleibol (Bronze)
Ricardo - Vôlei de Praia (Prata)
Ricardo Winicki - Vela
Robert Scheidt - Vela (Prata)
Rodrigo Pessoa - Hipismo (Bronze)
Roger Caumo - Canoagem de Velocidade
Rosângela Conceição - Judô
Roseli - Futebol
Sanderlei Parrela - Atletismo
Sandra Soldan - Triatlo
Sebastian Cuattrin - Canoagem de Velocidade
Sebástian Pereira - Judô
Shelda - Vôlei de Praia (Prata)
Sissi - Futebol
Sueli Pereira - Atletismo
Suzana - Futebol
Tânia Ferreira - Judô
Torben Grael - Vela (Bronze)
Vanderlei Lima - Atletismo
Vânia Ishii - Judô
Vicente de Lima Lenílson - Atletismo (Prata)
Yana Klochkova - Natação
Zé Marco - Vôlei de Praia (Prata)
2004 – Geisa Coutinho*, Márcia Narloch* e Marlene Furtunato* (Atletismo), Thiago Gomes e José Carlos Sobral (Remo) e Adriana Behar/Shelda (Vôlei de Praia)
2008 – Camila Carvalho, Fabiana Beltrame, Thiago Almeida e Thiago Gomes (Remo).
2012 – Rômulo (futebol), Cristian Rosso e Ariel Suarez (remo); Aldemir Júnior (atletismo).
2016 – Luan (futebol), Aldemir Júnior (atletismo), Sérgio Sasaki (Ginástica Artística)
2020/2021 –Lucão e Ricardo Graça (futebol)
O “ESPECIAL: 100 ANOS DE VASCO EM JOGOS OLÍMPICOS” foi produzido através da Hemeroteca Digital Brasileira consultando diversos jornais, entre os quais se encontram: Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Jornal dos Sports, O Fluminense, Manchete. O acervo do site NETVASCO, o livro “Atletas Olímpicos Brasileiros”, da professora Kátia Rúbio foram de grande valia, além do Reference-Sports e do Olympedia.