Lideranças do departamento de futebol do Vasco foram demitidos e muito se especula sobre uma completa reformulação do futebol do Vasco através de nomes
Todos os torcedores do Vasco tem tido diversas decepções com o futebol, não sendo algo exclusivo desse ano de 2021.O último bom time montado e que é lembrado pela torcida é o time de 2011, na qual venceu a Copa do Brasil. Diante desse cenário, muitos torcedores cobram um departamento de análise de futebol e de mercado mais robusto dentro do Vasco.
Por isso, o Papo na Colina buscou entrevistar Thiago Silveira CEO da “OWL Stats” empresa de Análise de Futebol que atua em 3 países.
Na entrevista Thiago contou um pouco sobre sua trajetória e seu currículo:
“Falando um pouco de mim, eu tenho mais de 10 anos de experiência em análise estatística de futebol, vasta experiência na construção de equipes de analistas de diferentes origens, além de um grande número de partidas analisadas em ligas de todo o mundo — estimo mais de 20.000 jogos assistidos e analisados. Parte da minha carreira foi na SmartOdds, a empresa de estatística do Matthew Benham. (Dono do Brentford da Inglaterra e Midtjylland da Dinamarca) Inicialmente era uma empresa muito voltada para o mercado de apostas esportivas, mas o próprio Matthew Benham percebeu que aqueles dados coletados poderiam ser utilizados com muito sucesso em clubes de futebol. O mercado de apostas esportivas busca caminhos mais simples para obter probabilidades confiáveis de vitória e gerar valor em cima disso. Agora, pensa comigo, se tenho um jeito simples e confiável para obter probabilidades, eu consigo antecipar o futuro de um time, certo? A Owl Stats nasceu porque percebi que esses indicadores poderiam realmente ajudar clubes e agentes a se anteciparem nas decisões, reduzir riscos e maximizar lucro. Claro que só essa parte não era suficiente. Por isso, montamos o melhor time de analistas de desempenho com experiência de campo possível. Dessa forma, passamos a não só ter as probabilidades e a performance gerada por determinado time, mas também os indicadores coletivos e individuais que as explicam”.
Além disso, perguntamos sobre os princípios essenciais na análise de desempenho e se eles tentam ser o mais próximo possível com análises feitas em clubes como o Brentford:
“A análise e, principalmente, a coleta de dados, hoje, são um diferencial muito grande no universo futebol. O Brentford é um exemplo disso. Mesmo no mercado mais competitivo do mundo, eles estão conseguindo crescer ano após ano. É um trabalho extremamente orientado a dados, até porque eles não têm orçamento para competir com os gigantes. Quando o Brentford chegou na Championship (2.ª divisão inglesa), eles perceberam que eram o 19° time em orçamento, e precisavam fazer algo diferente para competir. A abordagem escolhida foi estudar a liga na totalidade, e até as ligas abaixo, para entender como os clubes geravam xG (expectativa de gols). Isso deu a eles uma visão de destaque sobre como entrar no mercado de transferências e sobre como tomar as melhores decisões de jogo possíveis. A nossa abordagem será sempre nesse caminho, porém buscamos ser sempre adaptáveis. Podemos ajudar em diferentes frentes: planejamento do elenco, análises de diferentes ligas, análises de performance coletiva e individual, análise de adversários. Cada clube pode precisar do pacote completo ou de diferentes modelos de ajuda mais pontuais. Pensamos sempre caso a caso, tentando montar projetos personalizados. Nossa meta é sempre auxiliar a minimizar riscos e maximizar performance, mas a decisão do clube sobre como usar o nosso sistema será sempre soberana”.
Perguntamos também sobre como eles atuam aqui no Brasil e se precisam de muito investimento:
“Começamos apenas na metade de 2021, cada um dos sócios com uma bagagem pessoal muito grande nesse mercado. Estamos cobrindo cerca de outras 7 ligas, mas em modelos mais enxutos. Já temos um banco de dados interessante e estamos negociando com alguns clubes do Brasil, porém preferimos manter em sigilo, por enquanto. Hoje temos uma equipe de pelo menos 30 pessoas ligadas à operação, ou seja, analistas, assistidores, matemáticos”.
Como já enfatizado mais em cima, Thiago já trabalhou com o dono do Midtjylland, e ele falou sobre o processo de contratação de Evander, jogador revelado pelo Vasco:
“No caso do Evander, por exemplo, no início eles observaram apenas desempenho. Era um jogador que já estava no radar, que sempre foi visto com potencial. No entanto, quando eles já estavam negociando, perto de concretizar a transferência, houve aquele incidente no Chile, com uma foto com outros atletas (Foto que foi divulgada em 2018 pela libertadores, em jogo contra la Universidade de Chile). Lembro que ele não jogou, voltou para o Rio de Janeiro e ficou um tempo afastado. Nessa época, a minha chefe na SmartOdds me ligou e pediu para eu tentar buscar mais informações sobre o atleta no Brasil. Estavam preocupados com o extracampo. Conversei com alguns contatos meus que me deram boas referências dele e do perfil extracampo e falei para eles que poderiam confiar. No dia seguinte confirmaram a transferência”.
Além disso Thiago falou sobre a importância não apenas dos dados e de observar outras variantes dentro da análise de jogadores:
“Com certeza é fundamental que exista um ambiente propício para o atleta se desenvolver, com estrutura e estabilidade. Existe um certo ponto até onde os dados podem chegar, mas posso dizer com tranquilidade que até nisso eles ajudam e muito. Vou te dar um exemplo. Se um time produz xG (expectativa de gols) alta e faz poucos gols, podem existir diversos motivos. A partir da análise individual, a gente consegue entender se um jogador está entregando determinado nível de diferentes ações determinantes para aquele gol acontecer. Até mesmo se aquele jogador é o correto para executar aquele tipo de função. Um time pode atacar muito pelas pontas com transições rápidas e não fazer gols. O óbvio seria dizer que talvez o centro-avante não seja dominante na métrica de duelos aéreos. Mas outras coisas podem afetar. Esse time tem pontas com bons índices de cruzamento? E no 1 contra 1? Existem jogadores pelo meio com bons índices de passes longos em diagonal para fazer a transição? O elenco precisa ser planejado em cima dessas métricas. O Brentford utiliza muito essa abordagem, de entender não só as métricas individuais, mas buscar ajustes para que os jogadores sejam complementares. Se um jogador estiver jogando no seu “habitat natural”, as chances dele se desenvolver, valorizar e dar retorno são imensamente maiores”.
Thiago responde também sobre a diferença da análise na Europa e da análise do Brasil e como ele pode ajudar clubes pequenos na serie C e B:
“Os grandes times da Europa já perceberam que big data é uma vantagem competitiva e estão investindo cada vez mais nisso. No Brasil, pelo que eu ouvi falar (posso estar errado), o Internacional é o único time que tem uma área exclusiva de dados. O Red Bull está criando uma. Os outros clubes têm departamentos de análise, mas acaba que os envolvidos têm que fazer muita coisa ao mesmo tempo. Lá na Europa, existe também uma continuidade do trabalho. Independente da comissão técnica e do corpo diretivo – até mesmo do modelo de gestão – o clube sempre vai ter uma estrutura que funcione à parte e busque os melhores indicadores possíveis para ganho de performance. Isso vai evoluindo com o tempo. Essa pergunta é muito interessante, até porque acredito que a Owl Stats pode sobretudo ajudar times de menor orçamento. Eu não sei como funciona o departamento de análise do Vasco, espero conhecer um dia e trabalhar com eles. Hoje um clube nessa situação consegue assistir 20 ligas ao redor do mundo, jogo a jogo, analisando lance a lance, para buscar os melhores jogadores possíveis? Acho difícil. Nós conseguimos. E o mais interessante é que não precisamos passar um orçamento fora da realidade para este clube, porque no final estamos gerando dados interessantes para outras pessoas: apostadores profissionais, mídia, etc. Na Owl Stats, a gente consegue ter escala”.
Em sua ultima fala Thiago falou sobre a análise estar crescendo no brasil e o que ele acha necessário para um clube ter em seu departamento de futebol:
“Acho ótimo que outros trabalhos de análise estejam crescendo no Brasil, pois ajudam a criar essa consciência da importância. Acredito até que esses trabalhos sejam complementares. Isso gera uma estabilidade maior para o clube, de não ter sempre essa visão de terra arrasada a qualquer resultado ruim. Nós mapeamos dentro de uma liga todos os ataques qualificados de cada time, além de algumas dimensões: por qual corredor, dentro ou fora da área, por tempo de ciclo de ataque, dentre outros. Hoje ninguém faz esse tipo de trabalho aqui tão profundamente. Então, eu conseguiria mostrar para o Vasco, por exemplo, que ele é dentro da série B o 15° clube em termos de conversão de chances em chances perigosas pelo corredor esquerdo em ciclos de bola de mais de 30 segundos. E não pararia por aí. A partir desse dado, chegaria até a comissão técnica os indicadores coletivos e individuais que explicam essa posição no ranking. Gostaria de ver, mesmo, clubes estruturando processos e ferramentas que continuem funcionando e dando suporte às pessoas, independente de quem ocupa cada cadeira. Acredito que essa é a semente de um Departamento de Futebol que performe no longo prazo e nós estamos aqui para ajudar!”
Por Ruann Lima