O ex-volante passou por cinco cirurgias e ficou três anos sem jogar. Por conta disso, desenvolveu depressão e vitiligo.
Uma perícia judicial deu novos argumentos à ação em que Marcelo Mattos move contra o Vasco. O ex-volante ficou por três anos no clube (de 2016 a 2019), entrou na Justiça do Trabalho do estado do Rio de Janeiro e, entre alguns pedidos, alega que erros médicos durante o tratamento de uma lesão no joelho abreviaram sua carreira. Foram cinco cirurgias neste período. As informações são do GE.
Ao todo, Marcelo Mattos cobra quase R$ 8 milhões do Cruzmaltino. Ele entrou com o pedido em 10 de março de 2021, o clube apresentou defesa, e a juíza Cristina Almeida de Oliveira solicitou um laudo pericial. Com a conclusão do documento, anexado ao processo nesta terça-feira (3/5), mais de um ano após o começo da discussão na justiça, nova audiência será marcada. Por enquanto, nenhuma sentença foi definida.
O laudo, assinado pelo perito Paulo César Weiss Campos, atesta que o Vasco negligenciou o tratamento, que Marcelo Mattos foi operado apenas dois dias após a lesão, sentiu muitas dores no pós-operatório e retornou aos treinos em quatro meses, quando o mínimo estipulado era de seis meses, entre outras coisas. Toda essa série de fatores desencadeou outras lesões que prejudicaram o joelho do ex-atleta. Além disso, o perito ressalta que esse quadro pode ter desenvolvido depressão, vitiligo e artofibrose, sequelas alegadas por Mattos.
O resultado do laudo gerou sentimentos mistos em Marcelo Mattos. Ao mesmo tempo que ficou aliviado por ver que suas queixas foram atestadas, o ex-jogador ficou revoltado com o fato de a cirurgia ter ocorrido dois dias após a lesão, algo que ele não havia percebido. Em entrevista com os jornalistas Héctor Welang e Marcelo Baltar, do GE, Mattos disse que não vai só processar o Vasco, como também os médicos responsáveis.
“O laudo trouxe uma novidade, algo que eu não tinha me atentado. Ele apontou que a cirurgia foi realizada dois dias após a lesão. Na época eu não me liguei. Agora as coisas estão batendo. Tinha que desinchar o joelho antes da operação. Três dias depois da cirurgia fui parar no hospital. Eu não conseguia ficar em pé, minha perna latejada, sentia um líquido e fui para o hospital”, recordou o ex-volante, que completou:
“Estou revoltado. Achava que tinham errado o prazo da volta. Mas isso não tem condições. É claro que os médicos sabiam. Fiz cinco cirurgias, peguei uma bactéria no joelho, corri risco de vida, uma cirurgia dessas poderia ter desandado. Foi uma irresponsabilidade muito grande o que fizeram comigo. A Justiça está sendo feita. Estou mais aliviado. Não vai ficar só por isso. Estou pensando o que será feito. Vou entrar na Justiça contra os médicos. Você não tem noção o que eles fizeram com a minha vida, com o meu psicológico e com a minha família. Isso tudo abreviou a minha carreira.”
Marcelo Mattos tinha planos de jogar até os 42 anos, mas as lesões o forçaram a parar a carreira aos 36. O advogado do ex-atleta, Felipe Rino, entende que a partir da perícia, todas as reclamações serão atendidas pela justiça:
“A perícia apenas comprovou aquilo que alegamos. Primeiro ponto foi a confirmação do acidente de trabalho. Segundo, e mais importante, que a imprudência no tratamento acarretou graves problemas à saúde do Marcelo. A perícia comprovou que a artofibrose ocorreu pela cirurgia ter ocorrido em um período muito próximo à lesão, o que não é recomendado pela literatura médica. Ainda, que sinovites, tendinites e desequilíbrio muscular ocorreram pelo retorno precoce aos treinamentos intensivos. Com menos de quatro meses de pós-cirúrgico, Marcelo Mattos foi escalado para partidas oficiais. O tempo mínimo recomendado é de 6 a 8 meses. O laudo ainda concluiu que as lesões e complicações provocadas pelo acidente de trabalho geraram grande impacto na vida pessoal e profissional do Marcelo, deflagrando a ocorrência de depressão e vitiligo. Por fim, o laudo técnico ainda esclareceu que há sequela definitiva da lesão, com limitação do arco de movimento do joelho direito com déficit da flexão, o que o impede de exercer sua profissão com a mesma maestria de antes.”
O Vasco diz que não comenta processos em andamento.
Além de danos morais, Mattos cobra mais de R$ 1 milhão em salários atrasados, três anos sem receber o 13º salário, férias e também o fato de o clube não ter depositado seu FGTS. Além disso, ele alega que o Vasco reduziu o seu salário em sua última renovação de contrato.
Revelado pelo São Caetano e com passagens por Corinthians (onde foi campeão brasileiro em 2005) e Botafogo, Marcelo Mattos chegou ao Vasco em 2016 e no mesmo ano sofreu uma lesão no joelho. No processo, ele alega que o ex-atacante Jorge Henrique (que também já processou o clube por atrasos de salários), lhe desferiu um chute de forma proposital.
Na ocasião, Mattos rompeu o ligamento cruzado anterior, passou por cinco cirurgias e ficou quase três anos sem jogar. Nesse período, teve o contrato renovado duas vezes. Quando voltou aos campos, fez apenas mais um jogo, em 2019. Em seguida, atuou por Santa Cruz, Dom Bosco-MT e Bangu (onde jogou a Série D de 2020 e o Carioca de 2021) seu último clube. Em nenhum destes três clubes, o ex-volante praticamente não entrou em campo.
Por: Luiz Nascimento