Em entrevista, cria da base de São Januário revela cobrança do pai e fala sobre o seu primeiro gol como profissional
Com apenas 20 anos, Lucas Figueiredo é uma das grandes promessas da chamada “geração 2001” da base do Vasco, a mesma de Juninho e Gabriel Pec. Apesar de na maior parte do tempo, sempre jogar como meia ou ponta, foi como atacante que o Menino da Colina fez o seu primeiro gol da carreira profissional, domingo, contra o Bahia. Em entrevista para o UOL, o atleta revelou que o chute de fora da área que originou o golaço era um pedido do pai, seu Wagner.
“Desde moleque eu arrisco de fora da área. E meu pai me cobra muito isso, que eu arrisque mais de longe porque tenho um chute forte. Foi no momento certo e na hora certa”, declarou o atacante.
Mesmo ciente da potência do chute do filho, a velocidade alcançada na cobrança surpreendeu seu Wagner.
“Esse trabalho tem sido feito. Eles já tentaram várias vezes, mas não sabia que ia sair uma pancada assim de 106 km/h [risos]”, disse o pai do jogador se referindo ao número apresentado na transmissão da TV Globo.
“É muita luta, foi inesquecível! A gente já vinha esperando, queria que acontecesse. Ele vinha tentando, trabalhando, até que apareceu o gol. Na hora, no momento, foi muita emoção. Os colegas ali em volta de mim, me abraçando…”, se recorda o pai do atleta.
Segundo Figueiredo, de fato a jogada do gol foi ensaiada. O atleta revelou que falou com Nenê no momento da cobrança:
“A gente já vem treinando essa jogada há algum tempo, sendo que, no treino, às vezes eu chutava rasteiro, às vezes pegava na veia… E no jogo, graças a Deus, fui feliz. Na hora ali eu falei: ‘Pô, Nenê, daqui eu pego, hein’. Aí o Edimar também passou puxando a marcação e, quando o Nenê tocou para mim…[risos]. Nenê é o nosso cobrador, né? E ele confiou em mim. Graças a Deus, fui feliz”, ressaltou, complementando:
“Te falar, cara. Eu só acreditei que a bola entrou quando vi a vibração da torcida [risos]”.
Declaração de Danilo Fernandes
Na saída de campo, o goleiro do Bahia, Danilo Fernandes, deu uma declaração no microfone da TV Globo que acabou soando como se fosse arrogante e que caiu muito mal entra a torcida vascaína. O atleta tricolor disse que a festa na arquibancada parecia comemoração de título e que o gol havia sido falha sua.
Questionado sobre o que achou da declaração, Figueiredo disse que seu gol foi mais mérito dele mesmo do que falha de Danilo:
“A minha opinião é que foi mérito meu. Uma bola difícil, que foi variando. Não acho que foi falha dele não, mas… [risos]. Foi mais mérito meu do que falha dele”.
Na avaliação de do atacante, seus chutes passarão a ser mais visados pelos goleiros a partir de agora.
“Antes os goleiros sabiam que essas faltas assim só o Nenê batia, né? Mas agora vão ficar preocupados um pouquinho mais”, opinou.
Comparação com Roberto Dinamite? Nem pensar!
Muitos torcedores do Vasco automaticamente compararam o golaço de Figueiredo no domingo com o primeiro gol do maior ídolo cruzmaltino, Roberto Dinamite, no time profissional.
Em 25 de novembro de 1971, o então atacante Roberto também estufou a rede com um chute forte, na vitória do Vasco sobre o Internacional por 2×0. Esse feito inclusive foi destaque no Jornal dos Sports do dia seguinte, que mancheteou: “Garoto-Dinamite explodiu”. Apesar de ser fã de Dinamite, Figueiredo evita comparações:
“Foi muito parecido, mas não tem com comparar a ele. Roberto Dinamite fez grandes coisas aqui no Vasco e eu espero fazer também, mas comparação assim acho muito difícil pela grandeza que ele tem no clube, mas eu fico feliz que o pessoal está comparando. Porém, da minha parte, não posso deixar isso entrar na minha cabeça”, ressaltou, tendo a opinião compartilhada por seu pai Vagner:
“Eu cheguei a vê-lo jogando, mas sem comparação. Roberto é um craque, um ídolo aqui dentro. Eu só tenho a agradecer a Deus que ele [Figueiredo] está sendo iluminado aqui”.
Arrepiado com narração de Luis Roberto
Figueiredo já perdeu as contas de quantas vezes viu na Internet seu gol sobre o Bahia. Em todas, porém, garantiu que a sensação foi a mesma. Para ele, ter o tento narrado por Luis Roberto, da TV Globo, lhe trouxe ainda mais emoção para o momento.
“Luis Roberto é muito fera. Toda hora estou vendo e fico me arrepiando. Postei até no meu Instagram. Não tem como não se arrepiar com a narração dele”, elogiou o jogador sobre o narrador.
Rejeitado pelo Botafogo, pensou em desistir
A frase predileta de Figueiredo diz: “Só vive o propósito quem suporta o processo”. E foi carregando este lema que o atacante não desistiu da carreira precocemente. Ela teve início nas escolinhas de Niterói, até que surgiu a oportunidade de ir para a base do Botafogo aos 11 anos. Por lá, ficou até o sub-15, quando foi dispensado de uma forma que ele não recebeu bem.
“Fui mandado embora por telefone. Ligaram para o meu pai. Eu não entendi nada”, recorda o jogador, que admite que, naquele momento, pensou em desistir da carreira, mas conseguiu ser forte.
“Quando fui mandado embora do Botafogo, pensei várias vezes em desistir porque é um choque para qualquer moleque. Eu fiquei parado um tempo sem jogar, sem clube, até que apareceu o Boavista-RJ. Consegui ir bem lá, me destacar e apareceu o convite do Vasco”, explicou o jogador, que chegou ao Cruzmaltino com 16 para 17 anos.
Copinha: “ou é oito ou é oitenta”
Figueiredo já havia atuado outras vezes nos profissionais do Vasco, porém, durante a Série B do ano passado, mas não conseguiu render na campanha que manteve o time de São Januário na segunda divisão nacional. Então, o atleta tomou uma decisão que a princípio poderia ser estranha, mas que foi muito crucial para a carreira: ser rebaixado para o sub-20 e disputar a Copa São Paulo de Juniores 2022.
“No final do ano eu conversei com o pessoal aqui, pedi para jogar a Copinha, aí o treinador de lá me ligou, o Igor Guerra, e eu falei que ele podia contar comigo e ele me abraçou. Também tenho que agradecer a ele que me quis no elenco”, declarou.
A decisão não poderia ter sido melhor. Figueiredo fez oito gols e foi o artilheiro da competição junto de Werik, do Oeste. O bom desempenho lhe rendeu novas oportunidades no time de Zé Ricardo, além de renovar sua confiança.
“Aqui no profissional eu não estava muito bem. Aí quando fui para a Copinha, foi tipo oito ou oitenta. Ou ia me queimar de vez ou ia fazer o que fiz, retomar a confiança e, graças a Deus, fiz uma boa Copinha, saíram os gols e minha confiança foi lá em cima”, avaliou.
Na Copinha, Lucas atuou como centroavante, posição diferente dá que tem jogado no profissional com Zé Ricardo. O jogador, porém, garante que não há preferência e que já atuou desta maneira muitas vezes nas divisões de base.
“Fico muito à vontade jogando de ponta, porque desde a base eu jogo de ponta ou centroavante. E indo bem nas duas funções é bom para qualquer treinador. Para mim é tranquilo”, disse Figueiredo.
O conselho dos mais experientes que faz toda a diferença.
Lucas revelou que tem recebido conselho dos mais experientes do plantel. O zagueiro e capitão Anderson Conceição foi um dos que falou com o atacante após a vitória sobre o Bahia.
“Ontem mesmo o Anderson falou para mim: ‘Agora que é a hora, parceiro. Tem que manter sua cabeça firme e não pode cair na perdição, porque a cobrança vem maior agora’. E é isso. Eles [experientes] nos passam orientação”, disse o atacante, revelando também dicas do meia Nenê:
“Quando treino falta com o Nenê, ele me passa dicas, e é assim. Eles nos passam a vivência que já tiveram”.
+ RECEBA AS NOTÍCIAS DO VASCO NO CELULAR TOTALMENTE GRÁTIS
Por: Luiz Nascimento