Técnicos de Grêmio e Vasco e contemporâneos de Seleção e Flamengo se reencontram neste domingo em lados opostos pela Série B
Luiz Nascimento
O jogo deste domingo pela 29ª rodada da Série B é carregado de coincidências. Grêmio e Vasco estão lutando pelo acesso, enquanto Renato “Gaúcho” Portaluppi e Jorginho irão estrear na beira do campo, assumindo seus respectivos times após situações delicadas na tabela. Os dois já comandaram os treinos de suas equipes nesta semana, e não por coincidência, reestreiam nos clubes onde tiveram sucesso (guardadas as proporções) como atletas e técnicos.
Porém, a relação entre os comandantes tricolor e vascaíno começa muito antes do jogo deste final de semana. Os dois surgiram para o esporte bretão nos anos 80, foram adversários, mas também chegaram a ser companheiros de time. No Flamengo, foram campeões da polêmica Copa União de 1987 e na Seleção Brasileira, levaram a Copa América de 1989 e estiveram presentes no fiasco da Copa de 1990. Apesar das personalidades diferentes, são amigos até hoje.
“O Jorginho é um amigo de muito tempo, jogamos juntos no Flamengo, na Seleção Brasileira. Fomos campeões juntos no Flamengo em um timaço. Torço muito por ele como treinador, a gente sempre se fala, principalmente no fim de ano, que tem a “pelada” do Zico. Ele é uma pessoa que eu gosto muito, torço por ele, mas não no domingo”, disse Renato em entrevista ao jornal gaúcho Zero Hora.
Quando foi apresentado na quarta-feira, Jorginho também falou sobre o amigo e companheiro nos tempos de Flamengo.
“Jogamos juntos, foi um período maravilhoso. O time de 1987 (quando ganhou a Copa União) foi, para mim, uma das melhores equipes que eu tive a oportunidade de jogar. Eu passando todas com o Renato, recebendo nenhuma, porque ele era muito fominha, driblava todas”, disse o comandante cruzmaltino, que ressaltou a importância de Renato comandar o Grêmio e do fato do Tricolor Gaúcho e do Vasco estarem no G4.
“A gente tem uma amizade grande, um respeito grande, um cara vencedor como jogador e como treinador, já teve conquistas importantes. Eu estou nesse processo, tenho algumas conquistas. Então, estou nesse processo e muito feliz por estar nesse momento, estrear em um jogo importantíssimo para o Renato e para mim, duas equipes que estão frequentando o G-4 constantemente e que vão permanecer. Tenho certeza que essas equipes vão subir”.
Histórico com a Amarelinha
Além do Flamengo, onde foram companheiros em 1987 e 1988, Renato e Jorginho têm história na Seleção Brasileira. Em 1989, os dois fizeram parte do grupo que foi campeão da Copa América realizada aqui no Brasil, e que ajudou nosso país a encerrar um longo jejum de títulos da mais antiga competição de seleções do mundo.
Renato foi titular no começo da campanha, porém Jorginho não entrou em campo. O então lateral-direito sofreu uma lesão no joelho dois dias antes do início da Copa América e foi liberado para viajar até a Alemanha para acertar com o Bayer Leverkusen e na volta ao Brasil, acabou tratando sua lesão no Flamengo e perdeu o resto da campanha nas eliminatórias para a Copa do Mundo (que na época, era um torneio curto)
No ano seguinte, ambos foram convocados pelo técnico Sebastião Lazaroni para o Mundial da Itália. O lateral foi titular e o ponta ficou a maior parte do tempo no banco e o Brasil acabou sendo eliminado nas oitavas de final para a Argentina, com um gol de Caniggia.
Jorginho quer superar Renato no comando do Vasco
Além de serem contemporâneos como atletas, Jorginho e Renato também são como treinadores, começando as carreiras nos anos 2000: o ex-lateral no America-RJ em 2005, enquanto o ex-atacante, no Madureira em 2001. E por coincidência, parte de suas carreiras passa pela Colina Histórica.
Curiosamente, Portaluppi, que faz 60 anos de idade nesta sexta-feira, foi o treinador que mais comandou o Cruzmaltino neste século: foram 133 partidas em duas passagens: entre 2005 e 2007 e no segundo semestre de 2008. Jorginho vem atrás, com 97 partidas. Apesar do seu contrato valer até o final da Série B (ou seja, pelos 10 jogos restantes), o novo técnico cruzmaltino diz que quer quebrar o recorde do amigo.
“Uma satisfação muito grande minha, planejo ficar aqui muito tempo, quero ultrapassar o Renato. Objetivo naturalmente é a longo prazo, não ficar aqui por apenas dois meses”
Mais uma coincidência: os técnicos que serão adversários neste domingo também alcançaram um feito raro neste século no clube: começaram e terminaram uma temporada inteira treinando o Gigante da Colina.
Renato conseguiu esse feito em 2006, quando inclusive, foi vice-campeão da Copa do Brasil e quase levou o Vasco à Libertadores, terminando em 6º lugar no Brasileirão. Jorginho ficou toda a temporada de 2016, quando além de conseguir subir com o time, foi campeão carioca invicto. Tirando a dupla, somente Dorival Júnior terminou uma temporada inteira à frente do Vasco neste século, em 2009, quando foi campeão da Série B.
Confrontos diretos
Quando o assunto é confronto direto, Renato Gaúcho leva a melhor sobre Jorginho. Em oito confrontos, são quatro vitórias para o novo treinador gremista, dois empates e duas vitórias do novo comandante cruzmaltino.
As duas vitórias de Jorginho têm o Vasco como protagonista. Na primeira, em 2006, foi pelo America-RJ, que venceu o Cruzmaltino de Renato por 2×1 pelo Campeonato Carioca. A outra, foi em 2018, justamente em um Vasco x Grêmio, 1×0, gol do argentino Andrés Rios.
Por outro lado, as quatro vitórias do maior ídolo gremista foram sobre adversários diferentes (Ponte Preta, Bahia, Ceará e Coritiba). Os únicos empates neste duelo particular foram em 2013 (Ponte Preta de Jorginho 1×1 Grêmio de Renato) e 2021 (Flamengo de Renato 0x0 Cuiabá de Jorginho).
Treinadores chegam para salvar o ano dos seus respectivos clubes
Conforme dito no começo desta matéria, os dois treinadores chegam à seus respectivos clubes em um momento de grande turbulência na reta final da Série B. Seus contratos são curtos, de apenas 10 rodadas, ou dois meses (a Série B terminará em 5 de novembro).
O antecessor de Renato, Roger Machado, estava há quatro jogos sem vencer e passava por uma crise entre diretoria e torcida. A gota d’água acabou sendo a derrota para o Vila Nova, na rodada passada.
Já Jorginho assume um Vasco que estava sem um treinador fixo desde o final de julho, quando Maurício Souza foi demitido. A diretoria contava que o auxiliar permanente Emílio Faro fosse efetivado até o fim do ano, mas Faro sempre dizia em entrevistas que não queria ser o treinador principal. Vários erros de montagem de time e falhas grotescas da defesa, incluindo alguns gols contra, fizeram com que a diretoria cruzmaltina tomasse uma atitude após a derrota contra o Brusque, no último sábado.
Vasco e Grêmio se enfrentam neste domingo, às 16h (horário de Brasília).