No início da tarde desta terça-feira, Alexandre Campello utilizou a internet para divulgar uma carta aberta à torcida. No texto, repleto de emoção, o atual Presidente do Vasco faz inúmeras revelações sobre casos ocorridos durante seu mandato.
O Presidente inicia a carta fazendo um breve relato de sua trajetória da infância até à presidência do clube de coração. Faz, inclusive, um pedido de desculpas pelo afastamento entre o mandatário e a torcida:
“Humildemente prefiro reconhecer que se, até hoje, alguns vascaínos não entenderam ou entendem os meus atos é porque eu não tive a capacidade de explicar minhas intenções. Em certos momentos, é preciso admitir, talvez por temperamento, talvez pelo calor das circunstâncias, eu contribuí para nos afastarmos. Peço desculpas a todos.”
Apesar da introdução melancólica, rapidamente Campello dá o tom da mensagem: “Em três anos de mandato, não fiz outra coisa todos os dias se não detonar o sistema.”
Campello utilizou, a todo momento, jargões do famoso filme Tropa de Elite para apresentar fatos ocorridos durante sua gestão, além de sua luta contra o sistema.
“Fazer o ‘trabalho sujo’ significava limpar o Clube das mais práticas mais danosas, muitas delas encrustadas nas paredes de São Januário há décadas. Quem dera os esquemas do futebol fossem apenas táticos. […] Eu tive a coragem de mexer nos piores vespeiros. E o sistema, meus amigos, tal qual um vírus, percebe quando está sendo atacado. E reage. Reage duro.”
Na sequência, o presidente fez quatro graves denúncias:
1.Má administração do pagamento de encargos trabalhistas;
“Tão logo assumi, mudei parte da equipe do então Departamento Pessoal. Acreditem: nem sempre é por falta de recursos que um Clube deve encargos trabalhistas. Cortamos esse mal pela raiz.”
2. Funcionários que, com cumplicidade de dirigentes, roubavam dinheiro da bilheteria das partidas;
“Ainda no início da gestão, desmantelei um esquema dentro da Operação de Jogos. Não vou usar de meias palavras: funcionários, com a conivência — ou melhor — a cumplicidade de dirigentes, roubavam dinheiro da bilheteria em todas as partidas. Não satisfeitos, essa quadrilha ainda apresentava recibos fajutos para inflar as despesas de jogo, em conluio com prestadores de serviço. Cortamos esse mal pelo raiz.”
3. O já antigo e amplamente conhecido esquema de venda de cortesias destinadas às torcidas organizadas;
“Também quando assumi, determinei uma drástica redução do número de ingressos de cortesias. O Vasco tem um importante e inegável papel junto à comunidade da Barreira. Da mesma forma, precisamos enaltecer a dedicação de nossos torcedores organizados. Mas a capacidade de o Clube acolhê-los não pode ser sinônimo de prejuízo financeiro. E muito menos de falcatrua. Identificamos e eliminamos um esquema de venda de ingressos de cortesias. Agimos duramente e cortamos esse mal pela raiz.”
4. Falta de segurança na cobrança dos pagamentos dos sócios.
“Ainda em 2018, afastei um antigo funcionário da área de Cobrança, entre outras missões responsável pelo recolhimento do pagamento das mensalidades dos sócios. Sua fama extrapolava os portões de São Januário. E era ainda maior em ano de eleições. Não por acaso, por uma questão de segurança, suspendemos o pagamento das mensalidades em dinheiro dentro das dependências do Clube. Em nossa gestão, o sócio passou a quitar sua mensalidade exclusivamente por meio eletrônico, ou no cartão de crédito ou por boleto. Cortamos o mal pela raiz, não sem resistências: os vascaínos vão se lembrar que um dos candidatos às eleições deste ano chegou a convocar uma reunião de CD para questionar a administração sobre a suspensão do pagamento em dinheiro na Secretaria. Um fato me marcou: naquela mesma noite nosso rival jogava as oitavas de final da Libertadores no Maracanã. E o Vasco? Estava reunido para discutir, em pleno século XXI, porque nosso sócio não podia pagar sua mensalidade em espécie dentro do Clube. Que fria!”
Campello encerra suas denúncias já adentrando no tema das atuais eleições e, aparentemente, deixando uma indireta: “Que fria!”. O dirigente faz questão de frisar que pessoas que perderam a “boquinha” no clube logo se aproximaram de quem pudesse dar a oportunidade de retorno ao clube.
“O sistema, companheiro, se reorganiza, se regenera, articula novos interesses, cria novas lideranças. Quem perde a boquinha logo identifica e gruda naquele que pode devolvê-la.”
Segundo o Presidente, muitos dos funcionários demitidos por ele, provavelmente envolvidos nas situações denunciadas por ele, apareceram na eleição do dia 7 ao lado de um dos candidatos.
“As eleições do dia 7 de novembro mostraram claramente como os parasitas sempre buscam um novo hospedeiro. Ao longo daquele sábado, identifiquei na campanha de um dos candidatos vários dos funcionários que demiti, pessoas que passavam por mim exalando desejo de vingança em seu suor. Eles querem um emprego, um trabalho honesto para sustentar suas famílias? Não. Eles querem voltar a sangrar o Vasco. Os vermes estão à espreita. Para essa gente, o Vasco será sempre uma vaca leiteira.”
Ainda sem citar nomes, Campello faz referência à discussão que teve com o candidato Leven Siano:
“De um dos candidatos, ouvi, aos gritos, que fui otário por não ter ‘usado a máquina’ para me reeleger. Em três anos, foi o maior elogio que eu e meus companheiros de gestão recebemos. Obrigado, candidato!”
A carta é finalizada com um “alerta”:
“Mas lembrem-se: as aves de rapina estão sempre de tocaia. Onde nós enxergamos paixão e razão de viver, elas enxergam apenas uma carniça para saciar sua fome.”
Por: André Corrêa