Matheus Vinicio de Souza Cruz, de 20 anos, atende pela alcunha de MT e roda o Rio de Janeiro disputando as maiores batalhas de rap da cidade carioca. Campeão estadual de 2020, disputará o Nacional neste ano. Mas além do hip-hop, outra paixão também toma conta de seu coração, o Vasco da Gama, que terá um torcedor levando a Cruz de Malta ao maior duelo de improviso do Brasil.
Por Micael Abbud
A relação de MT com o Vasco vem desde criança, mas com um empecilho muito importante, seu pai. Filho de um flamenguista fanático pelo time, o Mc cria de Madureira teve que passar por cima do medo para contar que torcia pelo Gigante da Colina.
“Eu não nasci vascaíno por que meu pai é flamenguista. Coisa doida, eu sou vascaíno e meu pai é flamenguista. E eu não era de acompanhar futebol. Aí quando eu comecei a acompanhar futebol eu já me identifiquei muito pelo Vasco. Achei muito bonito o escudo, o nome sempre me atraiu, mas eu tinha medo de falar pro meu pai por que ele é flamenguista doente”, contou MT.
A coragem de assumir seu time para o pai veio em um momento curioso, em um título do Flamengo. Enquanto a festa pelo título rubro-negro era o principal assunto da casa, Matheus finalmente abriu o jogo sobre qual clube realmente tinha um espaço maior em seu coração.
“Eu contei pro meu pai num Botafogo e Flamengo. Eu contei que era vascaíno quando o Flamengo foi campeão. Meu pai comemorando o título do Flamengo e eu falei ‘pai eu sou Vasco’. Porque meu pai perguntou o porquê de eu não estar comemorando. Aí eu falei que eu era Vasco. Meu pai ficou bolado. Mas hoje em dia a gente se zoa. Quatro horas é o jogo do Vasco e a gente tá vendo e seis horas é o do Flamengo e eu vejo com ele”, revelou o Mc.
Relação com São Januário
Sem o apoio do pai, ir ao estádio para assistir a um jogo do Vasco passou a ser uma missão difícil. A solução veio aos 14 anos, quando começou a trabalhar e conseguiu juntar um dinheiro para ir à colina histórica. Ver a apaixonada torcida cantando e o caldeirão pulsar só aumentou o amor do pequeno vascaíno, que atualmente afirma que só não torce pro Vasco quem nunca foi à São Januário.
“Eu comecei a trabalhar aos 14 anos de idade e nunca tinha ido à São Januário, por que ninguém da família é Vasco, só eu. Aí quando eu comecei a ‘trampar’ eu falei ‘mano, eu vou pra São Januário’. Era um Vasco e Cruzeiro e foi muito doido, muito f*. O estádio, a torcida gritando… eu fiquei maravilhado. Eu falo com meus amigos que só não é vascaíno quem nunca foi à São Januário, não pegou São Januário lotado, porque se pegar, vira vascaíno. A energia é surreal”, disse Matheus.
Disputa do Nacional
A classificação para o duelo Nacional de batalhas de rap é uma das principais metas paras os Mc’s de batalha. MT não só se classificou, como é cotado como favorito para a disputa. O jovem de apenas 20 anos não esconde a ansiedade para o tão sonhado dia, que segundo ele, pode mudar sua carreira.
“Eu to ansioso, quero saber logo o que vai acontecer por que o resultado do Nacional pode mudar a carreira de alguém. Então eu fico ansioso sim, mas não nervoso. Ansioso pro que vai acontecer, mas preparado! Como eu vou me direcionar independente do resultado eu já tenho noção. Já pensei em todas as circunstâncias, seja perdendo ou seja ganhando, eu penso muito. Quero batalhar logo, é o que eu gosto de fazer. Pisar naquele palco logo… vai ser f*!”, revelou MT.
O duelo Nacional de rap seria disputado no dia 30 de janeiro, porém teve que se adiado em razão do aumento de casos de covid-19 em Minas Gerais, onde será o evento. A competição contará com representantes dos estados do Brasil. A batalha, que pode mudar a carreira dos artistas, como disse MT, já teve como campeões cantores conhecidos nacionalmente hoje em dia, como Emicida, campeão em 2006.
Confira outros assuntos também citados na entrevista de MT ao Papo na Colina.
Falar do Vasco em batalhas
“Eu evito muito puxar pra esse lado. Já teve vezes que eu batalhei com a camisa do Vasco, mas é raro. A gente se zoa fora da batalha. Tipo, acabou a batalha e tá rolando um jogo, vamos geral beber juntos pra ver, rola muito. Mas na batalha a gente evita. Mas já aconteceu, tem uma batalha minha com o Thorment, do Coliseu, que ele fala do Vasco. Foi quando o Vasco empatou com o Flamengo em 4 a 4, e ele fala ‘você foi campeão do empate contra o Flamengo’. E no dia era o dia da consciência negra, e eu faço a rima de analogia do dia da consciência negra e que meu clube lutou por negros e operários. E gritam muito pra essa rima. Foi uma vez que eu defendi o Vasco na batalha. Teve uma rapaziada na batalha que falou ‘primeira vez que eu vejo alguém defendendo o Vasco e todo mundo gritando pra rima, até flamenguista’.”
Saudades de São Januário
“Tá sendo ruim pra mim e pro time. Eu acho que influencia muito o São Januário lotado. Pra mim é triste, mas devido ao momento que a gente tá eu acho que é justo. Não sou a favor da volta da torcida aos estádios ainda não. Mas sinto muita falta. A primeira aglomeração que eu vou vai ser São Januário, com certeza.”
Projeto com o Vasco
“Eu procuro sempre tá perto do Vasco. Já fiz freestyle do time, já postei rima sobre… as páginas do Vasco abraçaram, mas nunca chegou nada ao clube. Se chegou, não teve retorno. Eu não tenho como meta tá fazendo a parada pro Vasco, mas se acontecer vai ser a maior honra. Vou ficar feliz pra c*, é meu clube do coração. Mas se não acontecer e o Vasco ficar bem, pra mim tá ótimo. A gente segue na caminhada e torcendo pelo time”
Metas para 2021
“Eu recebo muita mensagem positiva e negativa. A rapaziada que acompanha fala muito sobre meu jeito de rimar com vontade e critica um pouco, outra rapaziada apoia muito. Mas o que a gente pode esperar é o mesmo MT de 2021 ser o MT de 2016. É a mesma vontade de vencer e a mesma garra, respeitando o adversário e a roda cultural que tá pisando. Muito som, é a novidade, eu quero tá lançando som esse ano. Mas em questão de batalha, é a mesma garra e rimar com a mesma vontade de 2015, quando eu estava começando, e o prêmio era uma blusa rasgada. Independente do prêmio ser R$ 15 mil ou uma blusa rasgada, tá rimando com a mesma vontade. Eu odeio perder, então to sempre com a vontade máxima, as vezes até exagerada, mas é 100% de empenho.”