ETERNO GIGANTE
Leandro A. Rodrigues
A semana não foi tranquila para nós, verdadeiros vascaínos. Aliás, as duas últimas décadas não foram tranquilas para nós, verdadeiros vascaínos. Ainda que soubéssemos do resultado, estávamos aguardando a Matemática decretar o óbvio e, assim, fecharmos os olhos e permitirmos que as lágrimas escorressem.
Há quatro pontos que julgo importantes, neste momento, para refletirmos, por isso trago-os e compartilho-os aqui neste espaço.
O primeiro é a respeito do nosso futuro. Li bastante, ao longo de toda a semana, previsões acerca do que acontecerá com o Vasco nos próximos anos. Após analisar todas, nem sempre com total crença e atenção, sinceramente, não sei o que ocorrerá com o nosso amado Vasco da Gama. Dizer que ocorrerá o mesmo que se deu com muitos clubes brasileiros que foram perdendo espaço no cenário estadual e nacional e, de protagonistas, passaram a ser coadjuvantes, talvez, seja precipitado neste instante. Claro que é algo preocupante, pois, no mundo inteiro, já aconteceu isso. Times que, em outrora, eram grandes potências, por motivos mais variados, deixaram de sê-lo e, aos poucos, desapareceram dos holofotes da mídia. No entanto, a meu ver, mais do que isso, é importante nos preocuparmos com o que acontecerá agora. Uma casa não pode ser erguida sem uma base. É preciso, sem o afã do açodamento, preparar o terreno para que tudo seja muito bem feito neste ano de 2021. É importante que não haja o efeito gangorra, ou seja, ora sobe, ora desce. Sabemos que a torcida está sofrida. Sabemos que a torcida tem fome de títulos. Sabemos disso. Porém, creio que seja mais importante um jejum momentâneo à fome permanente. Nada, neste momento, pode ser decidido por precipitação. Nada mesmo. Todas as ações devem estar pautadas na estruturação a longo prazo. Trata-se de algo doloroso, mas, para sairmos do atoleiro, deverá ser assim.
O segundo é referente à torcida. Indubitavelmente, é o maior bem do Clube. O torcedor já deu sobejas mostras de que é o maior patrimônio do Time de São Januário. Novamente, ainda que estejamos calejados e exangues (como escrevi em uma das crônicas passadas), teremos de nos manter firmes. Sei que é crueldade de mais. Sei que já demos a nossa contribuição. Todavia, é isso ou isso. Não há escolha. Como na vida, estar ao lado das pessoas na felicidade é muito mais fácil do que na tristeza. É preciso semear a satisfação e o motivo pelo qual torcemos por uma agremiação. Sabemos que as gerações futuras se desenvolvem pautadas nas vitórias, mas as passadas, não. Claro que temo pelas gerações futuras. Haverá, sem sombra de dúvidas, uma perda quanto ao crescimento, visto que os mais novos, quando não são envolvidos por uma certeza familiar e/ou ideológica, aderem a uma entidade, simplesmente, pelas benesses do momento. Algo como uma espécie de carpe diem. Porém, aqueles que já têm a cruz tatuada no peito precisam, NOVAMENTE (sei o quanto já o fizemos antes), de abraçar o clube e de não o abandonar em meio à tempestade. Ouvi e li muitos dizerem que não torcem tampouco continuarão torcendo com o mesmo fervor. De minha parte, não me canso de dizer: agora, em mais este momento difícil, é que torcerei com um fervor, com uma força e com uma atenção maior.
O terceiro é a preocupação com o terreno alheio. Sabemos que a rivalidade é algo fundamental no esporte. Sabemos que a competição é a razão de existir do esporte. Não obstante, incomoda-me o fato de, durante anos, haver comemoração maior com a derrota alheia do que, propriamente, com a conquista pessoal. É importantíssimo esquecer a grama do vizinho. É importantíssimo plantar, cuidar e cultivar a nossa própria grama. É imprescindível comemorar as próprias conquistas. Volto a dizer: estabelecer com calma o próprio alicerce é algo fundamental. Assim, as bases sólidas permitirão que coisas novas e boas voltem a acontecer.
E, por fim, o quarto, e último ponto, é o que me motiva a torcer e a continuar torcendo: um Gigante, mesmo caído, continua Gigante. Nada! Nada mesmo! Vou repetir: nada apaga o que o VASCO DA GAMA é no cenário do futebol mundial. Todas as conquistas NUNCA serão apagadas. É óbvio que não podemos viver do passado apenas. É claro que não podemos nos vangloriar, somente, das conquistas antigas. Novas vitórias são imprescindíveis. Porém, não se apaga uma história como a nossa. Somos gigantes! Somos um Gigante, agora, com algumas cicatrizes profundas. Analogamente, podemos dizer que temos quatro cicatrizes bem profundas. Não quero fazer plástica para esconder as cicatrizes. Elas precisam ficar à mostra, para que não nos esqueçamos das dores e dos sofrimentos que resultaram nelas. Somos um Gigante golpeado pelas próprias escolhas. Como tudo na vida são escolhas, inevitavelmente, precisamos conviver com as que fizeram em relação ao nosso clube. Por favor, torcedor vascaíno, não se esqueça disto: um Gigante, mesmo caído, continua a ser um Gigante, ou seja, o Vasco é e sempre continuará sendo um Eterno Gigante.
Saudações Vascaínas!