“GARÔTO-DINAMITE”
Leandro A. Rodrigues
Quando criança, meu pai possuía um bar que ficava sob nossa casa. Eu tinha por volta dos sete anos de idade. Desde muito cedo, ficava no bar, auxiliando nas tarefas possíveis, como lavar copo, limpar as mesas, por exemplo. Bastante cedo, tive contato com adultos dos mais variados tipos e estilos, em virtude da minha presença constante no comércio do meu pai. Foi lá que aprendi a gostar tanto de rádio. Ouvia, sem parar, os programas esportivos da Rádio Globo. Foi lá, também, que, na televisão (em preto e branco), acompanhava os jogos de futebol que passavam na extinta TV Manchete, na Rede Bandeirantes e na Rede Globo. Não havia (ao menos de forma acessível) internet, no longínquo 1987/1988, tampouco os canais por assinatura que, atualmente, transmitem sem parar todas as programações esportivas. Também lá, no bar do meu pai, acompanhava os acirrados debates esportivos entre os maiores especialistas para mim (logicamente, excetuando o Apolinho, Washington Rodrigues, que tinha lugar cativo): os seus clientes diários.
Foi assim que ouvi do saudoso Sr. Ildo (botafoguense fanático) a declaração que, na época, chamou a minha atenção: “O Brasil perdeu a Copa de 1982 por causa da teimosia do Telê. Não era para o Serginho Chulapa ser o titular. Era a vez do Dinamite”. Fiquei impressionado, pois o clubismo não impediu que um botafoguense roxo, para quem não existia nada mais importante que os jogadores da Estrela Solitária, valorizasse um jogador de outra agremiação. Percebi, ali, que o maior ídolo da história do Club de Regatas Vasco da Gama, pela sua capacidade absurda de fazer gols, ultrapassava as paixões e resgatava, por vezes, nos amantes do futebol, a razão, levando os adversários a assumirem a sua maestria.
Carlos Roberto de Oliveira que, em São Bento, bairro de Duque de Caxias, era conhecido como Calu, passou a ser chamado de Roberto Dinamite depois da noite de 25 de novembro de 1971, quando, aos 17 anos, contra o Internacional de Porto Alegre, fez o seu primeiro gol profissionalmente com a camisa Cruz-Maltina. Tudo isso ocorreu, pois o Jornal dos Sports estampou, no dia seguinte, a emblemática manchete: “GARÔTO-DINAMITE EXPLODIU”.
Para mim, como torcedor vascaíno, nascido em 1979, o nome de Roberto Dinamite sempre me pareceu sinônimo de Vasco da Gama, pois, quando comecei a entender, a ouvir e a falar sobre futebol, o atacante já estava lá. Sabia que ele tinha passado, de forma frustrada pelo Barcelona, mas como isso havia ocorrido em 1980, tal fato não fazia parte da minha realidade. Por isso que, aos nove anos de idade, levei um susto quando soube que ele defenderia a Portuguesa de Desportos. Em minha inocência infantil, disse a mim mesmo:
“Como assim? Dinamite é patrimônio do Vasco”. Tive a mesma impressão quando, em 1991, ele teve exitosa passagem pelo Campo Grande, do Rio de Janeiro.
Os números de Dinamite são impressionantes (abaixo segue uma relação detalhada). Ele é considerado, com justiça, o maior ídolo do nosso Vasco da Gama. E, para os fãs, os ídolos possuem uma magia absurda, pois nos dão a alegria e a segurança, com belas jogadas, com títulos importantes, com momentos memoráveis ou com gols inesquecíveis. O camisa 10 de São Januário sempre foi uma síntese disso tudo e, também, uma analogia viva do gol.
Para este fã, vascaíno, que agora vos escreve, Roberto não foi apenas uma dinamite. Ele foi um arsenal inteiro que explodiu 708 vezes, envergando o manto que tanto amo.
Para nós, vascaínos (a história não me desmente), ele foi, sempre, em campo, uma felicidade ímpar, desde o dia 25 de novembro de 1971, quando ocorreu a sua explosão primeira; até o dia 26 de outubro de 1992, contra o Goytacaz, no seu palco maior, São Januário, quando houve o seu estrondo derradeiro.
Saudações Vascaínas!
OBS.: Relação detalhada com os números de Roberto Dinamite:
· Maior artilheiro da história do Vasco da Gama (708 gols);
· Maior artilheiro de São Januário (184 gols);
· Maior artilheiro do Carioca (279 gols);
· Maior artilheiro do Campeonato Brasileiro (190 gols);
· Marcou em 19 edições seguidas do Campeonato Brasileiro (de 1971 a 1989);
· Maior artilheiro do Vasco x Fluminense (36 gols);
· Maior artilheiro do Vasco x Urubu (27 gols);
· Maior artilheiro do Vasco x Botafogo (24 gols);
· Recordista de jogos com a camisa do Vasco da Gama (1110);
· 5º maior artilheiro do Mundo em Campeonatos de 1ª divisão, segundo o IFFHS;
· Artilheiro do Brasil na temporada de 1981 (62 gols);
· Artilheiro de duas edições do Campeonato Brasileiro (1974 e 1984 = 16 gols em ambas as edições);
· Artilheiro em três edições do Campeonato Carioca: 1978 (19 gols), 1981 (31 gols) e 1985 (12 gols);
· Artilheiro da Seleção Brasileira na Taça Oswaldo Cruz (1976);
· Artilheiro da Seleção Brasileira na Copa América (1983);
· Artilheiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Argentina (1978);
· Campeão de cinco campeonatos estaduais (1977, 1982, 1987, 1988 e 1992);
· Campeão de seis Taças Guanabara (1976, 1977, 1986, 1987, 1990 e 1992);
· Campeão de sete Taças Rio (1975, 1977, 1980, 1981, 1984, 1988 e 1982); · Campeão da Copa Rio (1992); · Campeão do Torneio Quadrangular do Rio (1973);
· Campeão Brasileiro (1974);
· Campeão da Copa Cidade de Sevilla, Espanha (1979); · Campeão da Copa Manauense (1980); · Campeão do Troféu Colombino, em Huelva, na Espanha (1980); · Campeão da Copa João Havelange (1981);
· Campeão do Troféu Cidade de Funchal, em Portugal (1981);
· Campeão do Torneio de Verão do Uruguai (1982); · Bicampeão do Troféu Ramón de Carranza, na Espanha (1987 e 1988);
· Campeão da Copa Ouro, nos Estados Unidos (1987);
· Campeão do Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano Sub-23 pela Seleção Brasileira (1971); · Campeão do Torneio Bicentenário dos Estados Unidos pela Seleção Brasileira (1976); · Campeão da Copa Roca pela Seleção Brasileira (1976); · Campeão da Copa Rio Branco pela Seleção Brasileira (1976); · Campeão da Taça Oswaldo Cruz pela Seleção Brasileira (1976); · Campeão da Taça do Atlântico pela Seleção Brasileira (1976); · Campeão do Mundialito de Cáli pela Seleção Brasileira (1977).