FUTEBOL: METÁFORA DA VIDA
Leandro A. Rodrigues
Perdemos. Sim! Perdemos. É bom que se diga algo importante: na vida, perde-se mais do que se ganha. No futebol, perde-se mais do que se ganha. No Campeonato Brasileiro, por exemplo, temos vinte times que participam e, ao final, somente um vence. Não há vexame. Não há vergonha. Não há tragédia. Há, simplesmente, uma derrota. Há um jogo. Por isso, digo: perdemos.
Existe um texto da psicanalista Maria Rita Kehl, “Futebol é uma síntese dramática da vida”, publicado em 2002, que reforça bem o que acredito: “Pode-se ganhar ou perder um jogo”. Acrescentaria, ainda, algo pleonástico: pode-se, também, empatar um jogo. E, nas três últimas rodadas do Campeonato Brasileiro, infelizmente, perdemos.
Gosto de dizer que o futebol é uma metáfora da vida. Costumo usar o velho esporte bretão para fazer diversas analogias. Filosoficamente, costumam dizer que “o medo de ganhar faz com que o time perca”. Mas, assim como na vida, o medo, muitas vezes, é algo importante. É algo que nos mantém vivos. É algo necessário que se faça presente. Em virtude do medo, temos uma certa prudência em nossos atos. Em um jogo fora de casa, como foi contra o Galo e contra o tricolor baiano, é comum conservar uma cautela maior. Economizar energia, muitas vezes, é imprescindível para que se alcance um objetivo maior. Indubitavelmente, a ousadia tem o seu momento, tem o seu espaço em nosso cotidiano. A sabedoria, porém, consiste em descobrir o momento exato de ser ousado. Do mesmo modo, ocorre com o futebol. Na última rodada, em virtude das duas derrotas anteriores, creio que, também, não era o momento de ousadia. Era o momento de sensatez. Era o momento de continuarmos vivos.
No futebol, assim como na vida, uma das maiores injustiças é analisar a necessária e imediata decisão, tomada no passado, com a frieza e o conforto do presente. O treinador tomou a decisão errada? Fazemos isso diariamente. O atacante não dominou a bola? Nem sempre temos o controle dos fatos. A decisão tem de ser rápida. A tomada de decisão tem de ser espontânea. Se o zagueiro não tivesse dado o bote errado? Se o volante tivesse diminuído o espaço? Se o lateral tivesse acompanhado o atacante? Se o goleiro tivesse colocado a mão mais firme para a defesa? Tais condicionais são absurdas, pois centram-se em suposições que nunca acontecerão. As condicionais só são possíveis e exatas na análise gramatical das orações. Nunca o serão na vida. O fato já ocorreu. São questionamentos ridículos e desnecessários. São semelhantes, por exemplo, a: Se os meus pais não tivessem se conhecido? A resposta seria simples e certa: eu não existiria! No entanto, existo. O que isso quer dizer? Quer dizer que eles se conheceram, assim como, nas três últimas rodadas, infelizmente, perdemos.
Nós, seres humanos, temos dificuldade em lidar com as derrotas. Temos dificuldade em lidar com o fracasso. Queremos, sempre, transferir responsabilidades e encontrar justificativas e/ou culpados. Isso acontece no futebol e na vida. Devemos olhar para as quedas como uma oportunidade de análise para evitarmos futuros fracassos. Devemos analisar o erro passado para, quando, futuramente, surgir uma nova oportunidade, a tomada de decisão seja outra. Só não podemos, como dizia minha sábia avó: “Ficar chorando pelo leite derramado”. Devemos, sim, aprender com o trabalho e o esforço, dispensados na limpeza do derramamento do leite, para que, de agora em diante, tenhamos atenção maior quando ele estiver no fogo.
Nas últimas três rodadas, infelizmente, perdemos. Sim! Perdemos! Como, constantemente, perde-se na vida! No entanto, assim como ocorre na vida, é preciso seguir firme e ir adiante, como faremos, hoje à noite, contra o Internacional.
Saudações Vascaínas!