No clássico contra o Botafogo, o Vasco da Gama foi mais organizado. Os jovens da base se destacaram e principalmente, o time não mostrou dependência em Germán Cano, fato que vinha ocorrendo.
O jogo em si possuiu distintas etapas. Na primeira metade, o Vasco possuiu um domínio amplo, procurando ter mais a posse de bola e trabalhá-la, fazendo a mesma circular, procurando espaços para a criação de jogadas e poderia ter saído dos 45 minutos iniciais com um placar maior. Fato que fica explícito se observarmos os dados abaixo do primeiro tempo:
A partida em seus primeiros minutos apresentou um Vasco mais estruturado e organizado, com a defesa bem postada e muito menos dependente de jogadas para Germán Cano.
O Vasco inicia a partida escalado em um 4-1-4-1, com Bruno Gomes de “único” volante de combate; Pikachu, Talles Leo Gil e Juninho formavam uma linha de 4 frente a Germán Cano, imaginando uma barreira, tanto para pressionar a saída de bola quanto para auxiliar na recomposição dos laterais, em uma transição defensiva; além de buscar trabalhar o jogo e ajudar na circulação da bola para criação das jogadas, com alternância para uma estrutura de 4-3-3, onde B. Gomes atuava de primeiro volante, Juninho e Leo Gil a frente e a última linha de ataque mais avançada, formada por Talles e Pikachu abertos com Cano centralizado.
Defendendo procurou se organizar marcando em bloco alto/médio, ou seja, ocupando basicamente o campo do adversário e pressionando sua saída de bola não dando muitos espaços para criação de jogadas. A primeira linha, de defesa, ficou postada lado a lado ocupando entre setor 1 e setor 2 do campo; a segunda linha, de meio entre setor 2 e setor 3, e a última linha, de ataque, entre setor 3 e setor 4 pressionando a saída de bola do Botafogo.
Mapa de calor Vasco da Gama – 1º Tempo
Ponto a se destacar para o posicionamento do Bruno Gomes flutuando no meio, entre as primeiras e segunda linhas com o auxílio da proteção do Henrique pelo lado esquerdo evitando assim com que o Castán se desgaste mais tendo que a todo momento fazer coberturas. Como podemos observar se analisarmos e compararmos os mapas de calor dos jogadores em questão nesse jogo e na partida contra o Fluminense:
Podemos ver que na partida contra o Botafogo, o mapa de calor indica que Henrique se apresentou em boa parte pelo lado esquerdo defensivo e B. Gomes flutuando pelo meio fez com que o Castán pouco se concentrasse para fazer coberturas. Já na partida contra o Fluminense, Neto Borges pouco teve presença defensiva e M. Júnior não se apresentou tanto pelo lado esquerdo defensivo, deixando um “buraco” neste setor, com isso o mapa de calor do Castán evidencia que o mesmo teve que por vezes ocupar este espaço.
Atacando, os laterais subiam formando uma linha com B. Gomes para dar apoio as construções das jogadas, Juninho e Leo Gil eram os responsáveis pela transição da equipe para o ataque, que procurou fazer triangulações e usando bem as beiradas de campo, tanto com os pontas quanto com os laterais. Algo que não acontecia sob o comando de Ricardo Sá Pinto.
A tática de pressionar a saída de bola pode-se perceber nos primeiros minutos onde a equipe de São Januário aplicou finalizações em série a meta alvinegra, algumas após pressionar. A mais perigosa de Germán Cano, aos seis minutos, à direita do gol de Cavalieri, após quebrada de F. Miguel com Talles centralizado dominando e servindo o centroavante. Pressão esta que fica evidenciada quando se destaca no mapa de calor abaixo a área do campo que a equipe do Vasco mais se fez presente, e no quadro abaixo, ambos referentes ao primeiro tempo:
A pressão na saída de bola aliada a fragilidade do Botafogo (a equipe até este momento do jogo já possuía 15 passes errados, sendo 11 no campo de defesa) fez com que, mesmo sem amplo domínio da partida, o Cruzmaltino abrisse o placar.
Aos 21 minutos, após tentativa de sair jogando da equipe alvinegra, Vasco pressiona e recupera a bola na intermediária do campo de ataque, trabalha a bola circulando-a até a mesma chegar pela direita a Cayo Tenório que faz o cruzamento alcançando a finalização rebatida de Léo Gil, a bola sobra no outro lado e Henrique cruza para Talles Magno, que posicionado dentro da área entre os defensores do Botafogo, cabeceia para o gol.
Ponto a se destacar para a presença mais centralizada do Talles, até mesmo dentro da área (lance do gol), que por vezes aparecia junto ao cano, mesmo atuando aberto pela esquerda. Movimentação que já ocorreu em jogadas anteriores. Não acontecia com o Ramon, que o deixava muito aberto pela ponta esquerda e não aconteceu em toda a passagem do Ricardo Sá Pinto.
O Cruzmaltino ainda teve duas boas chances de ampliar na etapa inicial, com Cano e Leo Gil, mas foi para o intervalo com a vantagem mínima.
Na segunda metade, a equipe do técnico Vanderlei Luxemburgo voltou com a mesma estrutura tática, porém já apresentava um recuo, não pressionava tanto a equipe do Botafogo, perdendo assim o meio campo, fato motivado pelo desgaste da parte física aliada as substituições do time de General Severiano que começou a gostar da partida. A entrada de Cícero expõe isso visto que foi realizada pois o atleta ter um bom aproveitamento em jogadas aéreas, oferecendo segurança defensiva e força nas bolas aéreas ofensivas, fato que culminou em um gol alvinegro bem anulado. Porém a falta de qualidade da equipe alvinegra no geral, atrapalhou na efetividade. O aumento do volume de jogo da equipe alvinegra na segunda parte fica evidente nos dados abaixo
Precisando recuperar a equipe, Luxemburgo buscou substituir e as alterações surtiram efeito oxigenando o time Cruzmaltino. Sem modificar muito a estrutura tática, primeiramente Andrey entrou no lugar do Juninho, que entrou atuando como meia direita e não como volante e 8 minutos depois C. Lopes no lugar do Léo Gil fizeram o Vasco recuperar a presença e domínio no meio campo. Jádson entrou no lugar do Tenório, que visivelmente também estava desgastado, atuando na lateral direita buscando auxiliar defensivamente pelo lado direito da defesa vascaína, local do campo onde Botafogo estava realizando suas principais investidas.
Logo após as primeiras substituições, o Vasco já se portava de maneira diferente.
Com isso vieram as chances, em uma delas Caio Lopes tabelou com Andrey que finalizou para a defesa de Cavalieri. Após ocorreu a construção do segundo gol, com o avanço em bloco da equipe cruzmaltina. B. Gomes pressionou e ganhou dividida, avançou para Talles Magno, que trabalhou a bola com Caio Lopes que estava chegando de trás. Este por sua vez tocou na entrada da área para Cano que veio buscar a bola e teve toda a calma para rolar pra Andrey encher o pé. Jogada construída seguindo a estratégia de pressão, em cima de uma rápida troca de passes aliada a uma presença ofensiva em bloco após recuperação de bola.
Após, entrada de Gabriel Pec no lugar de Talles, que virou uma válvula de escape pelos lados. Em bola roubada no meio campo ofensivo após erro alvinegro, Cano toca para M. Júnior que abre na esquerda para Pec e esse por sua vez da um passe, quebrando a linha de defesa, para Cano finalizar para defesa de Cavalieri.
Quase no apagar das luzes sai a construção do último gol. Após lateral, C.Lopes tenta a jogada individual, a bola é rolada para finalização de Cano em cima da defesa, na sobra Pikachu briga pela bola consegue se antecipar do lateral do Botafogo e sofre o pênalti, minutos depois convertido pelo mesmo.
Ponto importante de se destacar é a grande presença ofensiva de jogadores do Vasco na jogada, mesmo estando com a posse da bola, com o jogo próximo de seu final e resultado já sendo favorável a equipe, como podemos ver na imagem abaixo:
No geral podemos falar que a vitória cruzmaltina se deu sob esses aspectos, principalmente o fato do time se postar boa parte no campo adversário, impedindo que o mesmo tivesse muito campo para jogar. Com outros comandantes, o time se postava de forma reativa, ou seja, deixava a bola com o adversário e ao realizar a roubada de bola, procurava jogar nos espaços que ele deixava. Porém era um estilo de jogo que não vinha funcionando, pois, a transição ofensiva da equipe Vascaína era muito lenta. Com Luxemburgo o Vasco, com a bola no pé, começou a jogar propondo o jogo, e sem a bola, marcando em cima, sem deixar muito espaço para os adversários, porém com uma defesa bem postada além do homem de guarda (B. Gomes) flutuando no meio campo.
Como podemos ver nas imagens abaixo que demonstram as áreas do jogo de ambas as equipes, onde a equipe Vascaína se postou muito mais do meio-campo para frente, enquanto a equipe alvinegra teve pouca presença ofensiva e uma presença maior no setor defensivo e meio-campo, local onde normalmente sofria as interceptações:
Claro que ainda são apenas dois jogos sob o comando de Luxemburgo, mas comparado ao que a equipe vinha apresentando antes, podemos observar grandes melhoras. Fora a presença de jogadores formados em São Januário que vão dar um gás a mais na equipe. Ainda tem muito a se melhorar e corrigir, mas são atuações que colocam uma esperança nos torcedores vascaínos para que a caravela possa navegar em mares mais calmos até o fim do campeonato. Vasco pode começar a olhar aos poucos para cima.
Por: Gabriel Almeida