Grêmio Novorizontino conseguiu um crescimento rápido nos últimos anos dentro do futebol brasileiro
Luiz Nascimento
Perto de ter sua SAF vendida, o Vasco enfrentará nesta quarta-feira, um clube que encontrou na gestão profissional o caminho para evoluir na pirâmide do futebol brasileiro, mas que é inspirado no modelo italiano de clube-fênix (pelos quais times como Parma, Napoli e Fiorentina foram refundados). O Grêmio Novorizontino foi fundado 11 anos após a falência do Grêmio Esportivo Novorizontino, tem as mesmas cores, usa o mesmo escudo, joga no mesmo estádio e é controlado pela mesma família dona do antigo clube.
Apesar das histórias se cruzarem, os clubes são completamente diferentes. O Grêmio Esportivo Novorizontino foi fundado como um clube de uma fábrica de calçados em 1973, mas só estreou como profissional três anos depois, na Terceira Divisão (atual Série A3 do Paulistão). Ficou licenciado e só retornou em 1980. Em 1986, mesmo ano em que um time do interior (a Inter de Limeira) foi campeão paulista pela primeira vez, estreou na elite do estadual de São Paulo. O auge e a queda vieram nos anos 90. Em 1990, o Tigre surpreendeu a todos e fez a famosa “Final Caipira” contra o Bragantino. O vice-campeonato revelou o talento do técnico Nelsinho Baptista, que viria a ser campeão brasileiro ainda em 90, pelo Corinthians. Em 1994, mais um título: a Série C (pela primeira vez com este nome). Porém, depois que o GEN foi comprado pelos Chedid, após o Paulista de 94, o clube começou uma curva decrescente. Foi rebaixado para a Série A2 em 1996 (um ano depois do Bragantino). Em 1997, quase subiu, ficando a dois pontos do Ituano. Após o Campeonato Paulista de 1998, o clube fechou as portas.
O atual Novorizontino foi fundado em 1/3/2010. Inicialmente, se dedicava às categorias de base, mas a partir de 2012, passou a disputar competições profissionais. E desde o começo de sua trajetória, sempre se geriu como uma empresa. Os frutos acabaram sendo colhidos muito rapidamente: em quatro anos, foi da quarta para a primeira divisão do Campeonato Paulista, disputando a elite pela primeira vez em 2016. Em 2018, ficou em quinto lugar no geral do estadual e com isso, garantiu a primeira participação em torneios nacionais. Em sua estreia na Série D, em 2019, o time de Novo Horizonte foi líder de seu grupo (que também tinha Tupi/MG, Itaboraí/RJ e Hercílio Luz/SC), mas foi eliminado na segunda fase para o Boavista/RJ, que por sua vez foi eliminado para o futuro campeão e atual membro da Série B Brusque. Em 2020, o Tigre subiu para a Série C, mesmo em meio a pandemia. Bateu o Fast Clube/AM nas quartas de final, mas caiu diante do Floresta/CE na semifinal. No ano passado, conseguiu um bom desempenho na Série C e na segunda fase, em um grupo com Tombense e Ypiranga/RS, conseguiu o acesso derrotando o Manaus em confronto direto no Jorjão.
Porém, este ano começou com um baque: o rebaixamento para a Série A2 do Paulista depois de seis anos seguidos. O clube manteve o mesmo time do acesso à Série B, mas fez uma péssima campanha e caiu com antecedência. E a grande missão do conselho que gere o Novorizontino é tentar se manter na Série B. Porém, o time surpreendeu nas primeiras rodadas. Chegou a ficar no G4, mas as oscilações do time comandado por Allan Aal (o mesmo que subiu para a Série A com o Cuiabá em 2020) deixaram o Tigre perto do Z4. Para Thiago Gasparino, executivo de futebol, essas oscilações são normais para um time que nunca jogou um torneio de pontos corridos, como é a Série B:
“[Esta é] Uma Série B de altíssimo nível, por isso essa oscilação que não é só nossa. Tem uns 15 times que estão praticamente na mesma situação, menos Vasco e Cruzeiro que vem mantendo os bons resultados, apesar de não fazerem lá um jogo bonito. A gente vem tentando achar um ponto de equilíbrio, um jogo de cada vez, com viagens longas que muitas das vezes atrapalham o rendimento em campo, além do desgaste físico e emocional de um campeonato em pontos corridos e com 20 rodadas a mais que na Série C. É um mundo novo para nós, mas felizmente estamos encontrando esse ponto de equilíbrio para fazer uma boa campanha. Por ser um torneio muito equilibrado, a gente busca vencer as partidas. Neste primeiro ano, nossa meta principal é se manter na Série B e a partir daí, contar os jogos que faltam para pelo menos estar no G4. A nossa expectativa é fazer um grande jogo contra o Vasco, da mesma forma que fizemos contra o Bahia.”
Atualmente, o Tigre está em 14º lugar com 17 pontos. O começo irregular derrubou Allan Aal. Rafael Guanaes, ex-auxiliar do Cruzeiro, foi contratado e seu estilo de jogo mais ofensivo surtiu efeito logo em sua estreia, contra o Bahia, quando venceu por 1×0 fora de casa, resultado que derrubou o técnico Guto Ferreira do Tricolor Baiano. E é nesse estilo de jogo mais ofensivo e sem medo que o Novorizontino busca fazer uma nova caminhada na Série B.
“Em relação a contratações, vamos aguardar mais alguns jogos. O Guanaes chegou agora, treinou pouco, só para reconhecer nosso plantel. Vamos falar com ele para conhecer sua avaliação sobre nosso elenco. Apesar de já termos uma avaliação montada, dentro do planejamento e do orçamento, acreditamos no time que montamos para essa temporada”, disse Gasparino.
Se no futebol profissional, as coisas ainda estão andando, na gestão, os Biasi apostam nas suas categorias de base para conseguir retorno financeiro e esportivo. Assim como o Vasco, o Tigre tem o certificado de Clube Formador concedido pela CBF e o trabalho na base rendeu frutos. Em 2018, quando nem tinha divisão nacional, o aureonegro do Noroeste Paulista vendeu o atacante Rodrigo, que na época, estava emprestado ao Palmeiras, por R$ 18 milhões para o Real Madrid. Curiosamente, Ituano e Mirassol também se destacam nesse quesito e conseguiram uma rápida ascensão no futebol brasileiro, embora o Leão da Alta Araraquarense ainda esteja na Série C. A ideia do Tigre, no entanto, é ter uma equipe formada apenas por pratas da casa.
Grêmio Novorizontino e Vasco se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h30 (horário de Brasília), pela 15ª rodada da Série B. Se o Vasco vencer esta partida, pode quebrar um tabu de nunca ter vencido cinco jogos seguidos no Brasileirão de pontos corridos, além de assumir provisoriamente a liderança da segundona do Brasileiro.