Na noite da última quinta-feira, dia 07 de maio, o Gerente de Futebol de Base do Vasco, Carlos Brazil, falou sobre diversos temas, entre eles sobre a metodologia do clube de formação, Vasco Academy, o núcleo de escolinhas licenciadas, projetos do clube tanto de estrutura como de formação, entre outros temas.
O dirigente chegou ao clube em 2018, após a renovação do contrato de Zé Ricardo com o clube e o treinador indicou o profissional e, desde sua chegada, a mudança no trabalho feito na base do clube é nítida e de grande valor. Ao começar a entrevista, Brazil destacou que nos últimos dois anos o clube disputou fases finais de praticamente todos os campeonatos que disputou em todas as categorias, como as finais da Copa São Paulo em 2019, 1º colocado no Brasileiro sub-20 na fase de pontos corridos, finalista da Copa RS sub-20, entre outros resultados.
Algumas das mudanças citadas pelo dirigente foram o contrato de aluguel do Centro de Treinamento e estádio do Artsul, clube da Baixada Fluminense, para uso da base, oferecendo uma estrutura melhor para os atletas, integração do futebol de campo com o futsal nas categorias inferiores, melhorias na captação e análise de desempenho de atletas.
Quando perguntado sobre como seria investido o dinheiro do sócio torcedor De Norte a Sul, que será revertido especificamente para a base, o dirigente falou que ainda falta definir com a diretoria qual será o planejamento para este dinheiro, mas que há diversas frentes possíveis, como pagamento de bolsa para atletas e também pelos contratos de formação, a fim de reter os atletas com contrato com o clube, compra de ônibus e van para a base, materiais diversos como equipamentos de gps e de uso diário durante os treinos.
Foi perguntado também sobre a possibilidade da criação de uma equipe sub-23, num modelo parecido ao que faz o Athletico, mas descartou a possibilidade no momento e disse que há um movimento entre os clubes formadores para mudar a categoria de base no país, fazendo com que se estenda até o sub-21, dando mais um período de formação para os atletas. Segundo Brazil, por ser até 20 anos, muitas vezes o atleta não pôde maturar por completo e pode ter que ser dispensado após um grande investimento de anos de formação. Citou também exemplos de atletas recém chegados ao clube após observações na Copa São Paulo de Juniores, em que um dos atletas está prestes a estourar a idade de sub-20 e, por não haver jogos em decorrência da pandemia, pode ser dispensado pelo clube por não ter tido tempo de mostrar seu futebol.
Carlos Brazil destacou a importância da formação do atleta desde muito novo no clube, em que este atleta se desenvolve de acordo com a filosofia e metodologia implementadas pelo clube. Além disso, disse que contratações para a base não são a prioridade, apesar da equipe de captação e observação de atletas estar sempre de olho em competições e citou o exemplo da Copa SP, em que todos os jogos foram assistidos pela equipe no estádio e remotamente. Segundo ele, este atleta que está no clube desde os 8 ou 9 anos, é um atleta que chega ao profissional com mais qualidade, identificado com o clube e rende uma venda melhor.
Para criar esta identificação com o clube também foi criado o projeto DNA Vasco, que atende atletas da base dos 6 aos 12 anos, que recebem materiais sobre a história do clube como vídeos e textos e fazem até mesmo provas sobre o conteúdo que recebem. Esta também é uma forma de esses meninos também se tornem torcedores e não queiram sair do clube para um outro.
Outro projeto que foi abordado pelos repórteres foi o Vasco Academy, o projeto de escolinhas licenciadas do clube, que fornecem metodologias e ferramentas para que os licenciados ofereçam treinamentos para os alunos que seguem a mesma metodologia e treinamentos que a base do clube faz de forma unificada. Este projeto gera dinheiro para o clube e também atletas que podem já chegar ao clube adaptados à filosofia de futebol moderno e ofensivo. Atualmente, existem 15 escolinhas deste tipo pelo Brasil, sendo 10 delas no estado do Rio de Janeiro.
Uma das formas de medir a melhora no trabalho de base são as convocações para as Seleções Brasileiras de base. Em 2018, foram 5 atletas convocados e, em 2019, foram 13 atletas, entre eles Talles Magno, Gabriel Pec, Andrey (sub-17) e Lucão.
A transição do atleta de base para o profissional foi considerada como boa pelo dirigente, que deu exemplos de jogadores que já treinam com os profissionais, jogos treinos do sub-20 contra o profissional. Desta forma os jovens pegam experiência com um jogo mais físico e diferente do que estão acostumados ao jogarem contra atletas da mesma idade, além de já preparar aqueles que vão substituir atletas vindos da base que possivelmente serão vendidos. A ideia é que haja uma fábrica de jogadores suprindo as necessidades da equipe profissional, assim como as categorias inferiores, quando os atletas ficam mais velhos.
Por último, o dirigente falou sobre venda de atletas e valorização da base como um todo. Segundo Brazil, os grandes clubes europeus têm diversos profissionais espalhados pelo país acompanhando atletas todo o tempo, reportando sobre destaques, estatísticas e indicando atletas a serem contratados futuramente. O futebol brasileiro já é conhecido pelo seu trabalho de formação, mas é preciso estabelecer a marca do Vasco como um grande formador de atletas de qualidade.
Uma das formas de criar essa marca é com a observação dos profissionais de clubes europeus do trabalho feito pelo clube na base. Outra importante forma de estabelecer a marca é o desempenho de atletas formados no clube na Europa e também na Seleção Brasileira principal. Neste momento, o diretor citou Philippe Coutinho, Douglas Luiz, Paulinho e Evander como atletas que elevam o nome do clube na Europa pelo seu bom desempenho nos seus clubes ou na Seleção, apesar de vendas consideradas abaixo do valor real dos atletas. Foram citados como exemplo Santos e Flamengo como clubes que fizeram vendas em anos anteriores e agora seus atletas são muito valorizados e vendidos por preços recordes.
Ele acredita que o retorno que eles dão aos seus clubes dentro de campo mostra aos investidores que é um bom investimento comprar atletas do clube, o que aumenta o valor de futuras vendas. Brazil citou uma notícia do jornal As, da Espanha, em que clubes médios da Europa estão interessados na contratação de Talles Magno, porém a chegada de gigantes como Barcelona, Liverpool e Real Madrid na disputa impede estes clubes de menor investimento de contratar a jóia. Valores citados pela reportagem seriam entre 25 e 30 milhões de euros.
Os fatores que valorizam um atleta e tornam a sua venda mais cara são: convocações para Seleção Brasileira de base, quantidade de minutos jogados na equipe profissional e o lado financeiro do clube, já que um clube que pode negar propostas que não interessam, faz com que o preço a ser pago seja de acordo com o interesse do clube e um outro numa situação financeira ruim, o clube é obrigado a aceitar qualquer proposta.
Após o fim da entrevista coletiva, a equipe do Papo na Colina fez algumas perguntas complementares para o dirigente e este foi muito solícito em responder. Abaixo segue as perguntas e as respostas de Carlos Brazil.
Papo na Colina: Durante a live, você falou que a intenção do clube é cada vez mais ter atletas formados desde os primeiros anos de formação. A ideia com essa arrecadação de dinheiro vindo do sócio seria investir na estrutura da base do clube assim como bolsas dos atletas? Porque no último balanço a gente viu que o Vasco perdeu percentual de direitos econômicos com alguns atletas com a renovação de contrato, como o Talles, Vinicius e Pec, e fala-se que é uma forma que o clube tem, sem dinheiro pra dar luvas pro atleta, de aumentar a remuneração do atleta e ser um incentivo para renovar.
Resposta: Duas perguntas em uma. O dinheiro do sócio torcedor pode ser usado para pagamento aos atletas, para investimentos diversos em estrutura… mas isso somente será decidido em consenso com os Diretores e Presidente do club.
Sobre percentual e econômico para atletas, após a Fifa ter autorizado, é natural que todos peçam na renovação de contrato. Não somente no Vasco, mas em todos os clubes do Brasil isso irá acontecer. O Vasco, assim como outros clubes, trabalham com um teto nessa questão.
Papo na Colina: Assim que as obras iniciais do CT de Jacarepaguá sejam concluídas, com 2 campos de futebol sendo entregues, os juniores vão passar a fazer treinamentos neste CT e usariam a estrutura do Artsul apenas para jogos?
Resposta: não. Sub-20 usa Caxias e permanecerá utilizando até que o CT tenha construído todos os campos.
Papo na Colina: Quanto o clube tem de lucro com as escolinhas filiadas do Vasco Academy?
R: Valor da licença vendida + 10% de royalties.