Faltando dois meses para as eleições, o ambiente político do Vasco está cada dia mais aquecido. O mais novo motivo de disputa de narrativas é a lista de sócios aptos a votar na Assembleia Geral Extraordinária (AGO), marcada para o dia 7 de novembro.
Em reportagem do Globoesporte, o presidente da diretoria administrativa do clube, Alexandre Campello, acusou seu ex-aliado Roberto Monteiro, presidente do conselho deliberativo, de retirar 912 nomes que, segundo o clube, estariam aptos a participar do pleito. Campello também afirma que Monteiro incluiu cerca de 50 outros nomes em situação irregular, e portanto, impossibilitados de participar do processo.
Segundo o globoesporte, são na verdade 46 nomes, pois quatro deles estão duplicados na listagem final. Campello já havia assinado a ata e a lista de sócios, antes disso. O mandatário vascaíno ainda acusa outro presidente de poder do clube, Faues Cherene Jassus, o Mussa, da Assembleia Geral, de se omitir de fazer a conferência da lista.
Ambos os acusados por Campello negam as denúncias.
– Primeiro, precisamos entender se houve dolo. Não me parece ser um mero equívoco. Todos podem errar, mas quando se coloca 50 nomes que não estavam em nenhuma lista… me parece uma tentativa de burlar o processo. Não sou advogado, não sei se isso pode ser tipificado como ação criminal passível de ser levada adiante. Tem de entender com o jurídico, mas me parece estar longe de ser um mero equívoco – afirma Campello.
A lista mencionada, foi publicada na última sexta-feira (4), no site oficial do clube. A Junta Eleitoral já havia se reunido na última terça-feira (1), em São Januário, e definido os critérios para elaboração da lista dos eleitores e elegíveis para a AGO, são eles:
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Um ano de associação com pagamento em dia
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Ser maior de 18 anos
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Exclusão de sócios gerais anistiados
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Inclusão de Beneméritos Remidos, Remidos e Sócio Campeão mesmo não recadastrados desde que tenham até 90 anos.
Com tais critérios, a lista continha 8.843 nomes e, segundo Campello, a Junta definiu em reunião virtual, na última quinta-feira (3), que Roberto Monteiro seria responsável por fazer a ata e a revisão da lista fornecida pelo clube. É neste ponto que Campello acusa Mussa de omissão. A lista publicada no site oficial do clube, na sexta, tinha 7.981 nomes.
– Eu me ofereci a fazer a ata, mas a maioria decidiu que Roberto Monteiro deveria fazê-la. O que deveria ser papel do presidente da Junta Eleitoral, o presidente Mussa, foi delegado ao Roberto Monteiro. Ele deu os números finais à lista. Ele pegou a lista apresentada pelo clube e retirou 862 sócios – disse e completou:
– Qual foi a nossa surpresa? Ao fazer o cruzamento entre a lista que fornecemos e a que recebemos, verificamos que havia número maior de sócios alijados do que deveria ter. O número não era só de 862, mas 912 nomes diferentes entre as listas. Se concluiu que alguns foram inseridos para que o número final batesse com o que foi acertado. Descobrimos, então, que haviam 50 nomes diferentes, que jamais estiveram na lista. Posso afirmar que todos são inadimplentes, alguns deles eliminados do quadro social e, portanto, sem condição de votar. Alguns, desde 2018. Levantando os nomes, identificamos que são nomes ligados ao grupo Identidade Vasco, que é liderado pelo Roberto Monteiro. Isso, realmente, causou surpresa.
O ge então questionou Campello por qual motivo publicou a lista antes de fazer a checagem, que respondeu:
– Primeiro, agimos de boa fé entendendo que a lista tinha números tratados dentro da Junta Eleitoral. O número final estava alinhado com o que foi definido. Havia prazo a ser cumprido, e sexta-feira era o último dia para ser cumprido. Para publicar, o trabalho é grande pois temos de digitalizar um número grande de folhas. Se não fosse feito na sexta, ia impactar nos prazos do processo eleitoral. Agimos de boa fé entendendo que a lista continha as decisões da Junta. O clube entendeu que tinha compromisso com o sócio. Eu fui voto vencido e era importante que o clube prestasse contas.
O dirigente também foi questionado por que assinou a ata que retira o sócio anistiado pela sua gestão. Campello respondeu:
– É simples. A ata foi feita de maneira sintética. Na realidade, eu ratifiquei ser contra a exclusão dos anistiados. Entretanto, isso já havia sido votado na reunião da AGE. Não fazia sentido voltar a essa discussão, ou seja, ter critérios diferentes para a AGE e AGO. Até porque sabia que não mudaria. O 4 a 1 não aprovou a exclusão, o que foi aprovado foi publicar a lista com aqueles números finais. Entendo que os critérios já tinham sido votados, e eu fui derrotado. Quando o Mussa vota contra, é um voto político. Eu entendi que não deveria, naquele momento, politizar a Junta. A ideia era fazer uma eleição tranquila e transparente. Lamentavelmente, Mussa e os grupos que o acompanham tentam politizar. Não significa absolutamente que sou favorável à retirada dos anistiados. Se pegar o áudio, verá que o Mussa disse que faria uma publicação de inteiro teor. Vão verificar que reiterei a minha posição.
Na checagem da lista feita pelo Vasco, de acordo com Campello, não estão presentes nomes da atual gestão que têm direito a voto. Casos de Sonia Andrade (segunda vice) e Pedro Seixas (vice de obras). Os dois, junto com os outros 912 associados, também receberam e-mail do clube orientado como proceder. O clube entende que todos sócios têm direito a voto.
– A partir da identificação, a gente comunicou aos 912 que, para o clube, são sócios adimplentes, com direito a voto e que eles ingressem com recurso, uma impugnação na Junta Eleitoral. Os outros 50, ainda estamos estudando, mas nós vamos impugnar na Junta. O que não inviabiliza outras medidas a serem tomadas, que vamos avaliar internamente com o nosso jurídico para definir qual o melhor caminho a seguir. Vale lembrar que foram retirados dessa lista diretores e vices do clube, que têm a situação legalizada, regular e adimplente. Então, eu poderia admitir que isso trata-se de um equívoco se fosse a retirada de um ou outro. Mas quando se incluiu 50 nomes que jamais fizeram parte de qualquer lista, especialmente ligados a grupo político, me causa estranheza talvez no sentido de alterar o curso e o resultado da votação em novembro – finaliza Campello.
Monteiro alega que trabalho foi feito baseado na lista inicial da AGE
Roberto Monteiro afirmou à reportagem que na primeira reunião da junta ficou definido que o Vasco iria apresentar uma lista sem os sócios anistiados, representando uma lista com quase “900 nomes” a menos. Ele também disse não saber o porquê isso não foi cumprido.
Monteira alega que o trabalho se baseou na lista inicial usada na Assembleia Geral Extraordinária, que votou pela adoção das eleições diretas, com uma ressalva:
– Na reunião de terça, eu disse: fica mais fácil o Vasco inserir os associados de julho/agosto de 2019 e os dados financeiros de julho/agosto de 2020. Porém, o Campello me apresentou uma nova lista. Eu tomei como base a lista da AGE. Lista, aliás, que queremos ter acesso faz tempo e só tivemos, com as informações financeiras, após decisão judicial.
Monteiro afirma que não tem interesse em favorecer qualquer grupo político. Ele nega ter colocado 50 novos nomes na lista e ressalta que eventuais erros podem ser corrigidos na junta de recursos. No entender dele, é prematuro fazer qualquer acusação de dolo.
– Não teve troca de 50 por 50. Todo o nome retirado teve incongruência financeira. Eu vou querer favorecer o meu grupo? Eu não sou candidato, não inseri nada. Não são 50 votos que vão decidir a eleição. Quero saber quem é ligado a mim que entrou. Ora, cabe à Junta de Recursos impugna-los. É a Junta que decide, não sou eu. Eu defendo a lisura da lista desde o começo. Qual o benefício que vou ter se não sou candidato? Eu estou mexendo no interesse da muita gente na eleição, aí ocorrem essas situações.
Monteiro questiona Campello por ter assinado a ata da reunião e a lista de sócios e depois ter divulgado as supostas regularidades.
– Antes de divulgar, tem de recorrer. Antes de fazer juízo de valor de qualquer pessoa, que se questione na Junta de Recursos. Para se ter qualquer conclusão, tem de esperar o julgamento dos recursos. Isso é uma desfaçatez para encobrir o erro nos anistiados. São 750 nomes que o Campello e o Mussa querem colocar na lista, mas não podem. A votação de agora foi 4 a 1, e o Campello não se posicionou a favor dos anistiados. Se ele não o fez, como vai reclamar agora? – disse Monteiro, que completa:
– O sócio geral é uma categoria que não adquire o titulo de sócio. Ele é inserido em uma categoria que, passados os três meses de inadimplência, perde o título. E tem de comprar um outro. Ele foi inserido no sistema e foi colocada a data retroativa. O presidente não pode dar anistia a quem perdeu o título. Eles não têm regularidade
Monteiro complementa que houve falta de luz em ambas as reuniões da Junta Eleitoral para a AGO, o que dificulta os trabalhos, e que os erros da AGO podem ter sido induzidos pelos recursos não julgados da AGE. Ele ainda cita um membro da Identidade Vasco, Leandro de Souza Moura, membro suplente do Conselho Fiscal que também terá de recorrer.
– Não há nenhum interesse na causa. Há interesse em não legitimar a fraude eleitoral. Por exemplo, havia o nome da esposa do presidente Campello na lista e, por haver incongruência financeira, foi retirado. Eu não estou aqui dizendo que houve má fé. Se houve erro, com eventual recurso, a Junta vai corrigir – finalizou Roberto Monteiro.
Mussa: “Ao meu ver há erro”
Mussa também foi procurado pelo ge e lembra que não assinou nem a ata e nem a lista de sócios. Ele também nega ter autorizado Roberto Monteiro a fazer a checagem da listagem, como dito por Campello.
“Não é verdade. Eu não concordei que o Monteiro deveria checar a lista. Isso é atribuição minha, mas os quatro presidentes não deixaram. Eu não assinei nada pois eles tiraram muitos nomes, a listagem mudou muito e eu desconfiei. Tem gente que votou na AGE e agora não poderá votar na AGO. Achei que tinha algo errado e não quis assinar. Não afirmo que houve má intenção, mas ao meu ver há erro.
O presidente Campello aprovou a lista, eu não assinei. Eu fui contra. A votação foi 4 a 1. Senti que tinha problemas, então, não quis fazer parte. Agora que ele está vendo isso? Por qual motivo ele não concordou comigo? Por qual motivo eu fui voto vencido?
Quem fazia as atas das reuniões que eu presidia era o João Riche. Mas os quatro presidentes foram contra. Eles colocaram em votação, e o Monteiro ganhou. Então, ele fez a ata. E também não é verdade a questão do e-mail. Eu quis desde o começo que os sócios pudessem fazer impugnações pelo e-mail”.
Nomes supostamente inseridos
A reportagem conclui divulgando os nomes que, segundo o Vasco, foram inseridos de forma irregular: