A eleição que está definida para o final desse ano estabelece um marco na política do Vasco depois de muitos e muitos anos: será a primeira sem a presença do ex-presidente Eurico Miranda, que faleceu em março de 2019. Sendo candidato ou não, o ex-cartola vascaíno sempre teve muita influência nos bastidores do Cruzmaltino e foi decisivo em alguns pleitos.
Como será essa eleição sem a presença do ex-cartola? Sérgio Frias, autor da biografia do ex-presidente e líder do Casaca!, comentou sobre esse momento em entrevista exclusiva ao Papo na Colina.
Frias afirma que Eurico é ”insubstituível”, revela o que o clube mais sente falta do ex-cartola, cita as principais virtudes que que ele tinha, fala um pouco sobre postura do Casaca! nesta próxima eleição e clama por ”pacificação” no Gigante da Colina. Confira tudo!
Bate-Bola
Fabio Torres: Como será a primeira eleição sem a presença de Eurico Miranda?
Sérgio Frias: A diferença que eu vejo é no discurso e nas junções para uma candidatura. Não serve mais o discurso de que eu sou contra o Eurico Miranda e que servia de amuleto para que os candidatos fossem para a eleição sem projeto, sem prerrogativa e sem condição nenhuma de gerir o clube. No que diz respeito a alianças, ninguém consegue aglomerar tantas pessoas como o Eurico aglomerou. Isso abre espaço para que os mais hábeis consigam aglomerar apoios com pessoas que tinham ligação com o Eurico.
Fabio Torres: Você acredita que as campanhas políticas serão diferentes a partir de agora?
Sérgio Frias: Acabou a desculpa de quem entrava numa eleição para falar mal do Eurico Miranda e tentar ganhar uma eleição falando mal do Eurico Miranda. Acabou a aglomeração em torno de um nome específico porque era um nome forte que atraía pessoas de cabeças diferentes. Mas abre hipótese de um nome conciliador e um nome que conheça o Vasco de trazer para si vários grupos políticos do Vasco.
Fabio Torres: Consegue ver alguém nesse cenário político que possa ser o novo Eurico Miranda?
Sérgio Frias: Eurico Miranda é insubstituível. Não vejo ninguém nem perto das características dele, porque a diferença dele para os demais de sua época é absurda. Há os que se inspirem nele em muitas atitudes e isso é ótimo para o clube. E está de bom tamanho assim.
Fabio Torres: Quais eram as melhores características do Eurico?
Sérgio Frias: Assumir a responsabilidade, acreditar e trabalhar pelos sonhos e crenças no
que era possível e no que era aparentemente impossível, capacidade de aglutinação, saber lidar com atletas e dirigentes, entendendo as respectivas línguas que falavam, imposição de respeito ao Vasco, configurando-se numa figura que o impunha, mas fundamentalmente enxergar o Vasco muito maior do que aquele que os poderes constituídos e midiáticos forçavam os vascaínos a aceitar ser, baseado em suas teses e conceitos.
Fabio Torres: O que o Vasco mais sente falta do Eurico Miranda?
Sérgio Frias: Representatividade.
Fabio Torres: O Casaca! resolveu apoiar a candidatura de Luis Manuel Fernandes. Por quê?
Sérgio Frias: Porque é o mais capacitado a tornar o clube agregado a um objetivo comum acima das individualidades, somando-as em prol de uma administração responsável, moderna, eficiente e com condições práticas de fazer o Vasco não só resolver seus problemas financeiros como crescer esportiva e patrimonialmente.
Fabio Torres: A pacificação deve ser o objetivo principal do Vasco neste momento?
Sérgio Frias: A pacificação é fundamental para que você traga ao Vasco parceiros responsáveis e com grande potencial, que vislumbrem naquilo que é evidente – a grandeza do clube, o número de torcedores, a participação e paixão deles. Além desses possíveis parceiros terem segurança de uma unificação interna para investimentos e ações duradouras e não aventuras com riscos enormes inerentes a elas.
Fabio Torres: Mas você acha possível a unificação, mesmo com o clube fragmentado do jeito que está?
Sérgio Frias: Sim. É uma questão de bom senso geral e de um querer bem de todos ao clube acima de questões menores. Daí vem o fundamento de convergir em um nome que conheça o clube e suas peculiaridades internas e que se tragam outros para conhecer essa realidade e poderem no futuro vir a serem opções com apoio interno.
Fabio Torres: Quanto o Casaca! ainda pode ser decisivo em uma eleição mesmo tendo rolado um racha no grupo?
Sérgio Frias: O Casaca! tem um número de sócios votantes para essa eleição maior do que o número de sócios votantes que tinha na outra. São 20 anos de história. O número de associados conosco é muito grande porque a postura é reta e a base tem com a liderança diálogo, satisfação dada a questionamentos e harmonia de pensamentos basilares sobre Vasco.
Fabio Torres: Pensa em ser presidente do Vasco em algum momento?
Sérgio Frias: A única coisa que posso afiançar em relação a mim e ao Vasco no futuro é que permanecerei sendo Vasco e vislumbrando torná-lo um clube melhor, dentro de meus preceitos e parâmetros, que, felizmente, percebo ser o da maioria dos vascaínos. Ninguém diz qual é o lugar do Vasco. O lugar do Vasco é onde ele quiser estar, porque nenhum clube brasileiro possui tanto potencial como o nosso, a começar por sua história, inigualável e exemplar.