Após a vitória por 3×0 sobre o Ceará, que garantiu a liderança com um jogo a menos para o Vasco, muitas análises surgiram sobre o futebol praticado pelo clube e muitas delas mostram desconhecimento do que ocorre em campo. Em uma mesa redonda de TV, surgiu a comparação entre Germán Cano e Hernane Brocador. Sim, foi isso mesmo o que você leu. Mas a comparação não cabe, claro.
Por Rick de Castro
Foto: Rafael Ribeiro / Vasco
Hernane, baiano de 34 anos, é um atacante que teve grande notoriedade ao jogar pelo Flamengo, principalmente no ano de 2013, com 36 gols em 58 jogos (média de 0,62 gols/jogo), em que foi fundamental para o clube não ser rebaixado do Brasileiro e campeão da Copa do Brasil. Marca somente superada ano passado por um atacante flamenguista. Esse ano é o ponto fora da curva em sua carreira, em que nunca mais ultrapassou a marca de 10 gols em anos que disputava a Série A. No ano anterior, tinha marcado 3 gols em 14 jogos e no seguinte, 6 gols nos mesmos 14 jogos, ambos pelo Flamengo. Em 2016, pelo Bahia com 21 gols em 46 jogos, e em 2019, com 23 gols em 45 jogos pelo Sport, sua principal disputa no ano foi a Série B. Hernane sempre foi um atacante com grande presença na área e força física, mas não entregava outras participações durante o jogo para a equipe.
Já Germán Cano, argentino de 32 anos, está em sua melhor fase da carreira há 3 anos, uma regularidade que não se compara com a de Hernane. É fato que no começo de sua carreira, os números não eram bons e não se destacou em seu país de origem, mas os números no Independiente Medellín e no Vasco, são espetaculares. Seus primeiros anos de bons números foram em 2013 e 2014, com 8 gols em 18 jogos e 14 gols em 24 jogos, média quase de 0,5 gol/jogo e de 0,58 gol/jogo. Nos últimos dois anos, Cano fez 33 gols em 49 jogos (média de 0,67) e 41 gols em 47 jogos (média de 0,87). Já em 2020, são 12 gols em 16 jogos pelo Vasco, média de 0,75 gol/jogo e, somente na série A, são 3 gols em 3 jogos e participação direta em duas das três vitórias do time, fora as classificações em Copa do Brasil e Sulamericana, dependentes de gols do xodó da torcida no ano. Mas Cano não é somente gol, diferentemente do que possa se pensar ao ver apenas números. Ainda com Abel Braga, Cano era parte importante da criação das jogadas ao recuar para receber passes e abrir o jogo ao fazer ótimas inversões de jogadas e lançamentos com os dois pés, com um número bastante alto de acerto, tendo somente Andrey em companhia com este tipo de qualidade. Com Ramon, Cano tem recuado menos, pois a proposição de jogadas partem mais pelos meias e pontas, mas Cano ainda demonstra essa qualidade, importante até mesmo para armar contra-ataques, uma das armas do time de Ramon, com marcação alta e intensa, que busca pegar defesas desarrumadas.
É preciso que a imprensa passe a assistir aos jogos do clube e não somente analisar os jogos baseados em melhores momentos e números de estatísticas sem nenhum contexto. Os números de passes e participação de Cano podem ser baixos, mas a qualidade que acompanha esses números chamam atenção em uma equipe que não é brilhante tecnicamente.