Por: Andy Allah
Em 2009, com meus 21 anos de idade, a minha preocupação com o Vasco era: Qual seria a escalação do Tita. Quem o clube ia contratar, quem ia sair, expectativa com pré-jogo, alegria, ou frustração no pós, e contas a fazer no Campeonato Brasileiro. E vou confessar que a vida de torcedor era mais fácil, sem tantas desilusões. Isso porque em algum momento da sua vida vascaína, vai aparecer um Morfeu de Matrix, com uma fala mole, colocando duas pílulas na mesa e você terá de fazer uma escolha:
Se escolher a pílula azul, seguirá da mesma forma. Vai viver da ignorância do time, ignorar o que se passa nos bastidores, ficar satisfeito com o que podemos ver, ter e saber a respeito do Vasco. Seguimos e aceitamos aquilo que nos é ditado (dito) pelos dirigentes, e não temos opinião própria. O lema central será: “O Vasco é pra quem acredita”. Eu era exatamente assim naquele período.
Mas a pílula vermelha da Política Vascaína é muito atrativa, quase que irresistível! Uma vez que ela te traz a luz da escuridão que é o Vasco. Passamos a entender o jogo político. Saber quem são os objetos que movem o tabuleiro do xadrez vascaíno. Começamos a duvidar, questionamos tudo na política, e procuramos as respostas. A ignorância deixa de ser uma opção.
E eu assim como NEO e outros da Matrix fizeram, escolhi a vermelha em 2009. Tudo isso começou no início da gestão Roberto Dinamite, quando pude me associar, graças ao programa “O Vasco é meu”. Eu paguei R$100 pela joia, e mais R$ 30 mensal (hoje é R$750 e mensalidade R$ 70). Querendo ou não, Roberto trouxe naquela época a democracia de volta ao clube, talvez o maior legado que deixou, diante de tantas falhas. Porém, existe um preço quando se faz essa escolha. No exato momento em que você escolhe deixar de ser um ignorante político, o caminho é sem volta. O mundo que existe dentro dos muros de Zion (São Januário) é aberto para você. Todas as mazelas que estão na caixa de pandora vão sendo acessadas gradativamente, anos pós anos, você começa a entender quem são os conselheiros, os sentinelas beneméritos, e mesmo todo o cenário sendo construindo (construído), alianças inesperadas fazem o castelo de cartas desabar e você voltar a não entender nada mais, ou entender tudo sem acreditar no que está vendo.
Em muitos momentos a vontade de desistir é grande, quando se tem os fatos todos a sua vista. Mas a escolha feita é eterna! Jamais será o mesmo torcedor. Jamais verá uma partida de futebol apenas pelo que ocorre no campo. O seu olhar expande, fica mais amargo, mais seco, mais duro com os resultados. Um exemplo:
Quando se escolhe a pílula azul, em um jogo que tenha Werley na zaga, aceitamos que “aquilo é o melhor que podemos ter no momento”. Não há questionamentos, apenas a torcida pura e ingênua que tudo dê certo.
Quando se escolhe a pílula vermelha, é questionado o porquê do Vasco ter Werley no time, como foi parar ali, por qual motivo outro não joga, quem foi o gestor que trouxe zagueiro, quem é o seu empresário, quanto custou, por qual motivo o da base não joga, quando será que vamos pagar no processo judicial, em qual gestão?
Eu como um vascaíno que escolhi entrar na Matrix do Vasco, geralmente durmo desolado, traído com tudo que ocorre no clube, fico irritado com as notícias, um corno sem esperanças, mas carente de uma única boa notícia para renovar o astral. Mas confesso que quase toda manhã quando acordo, eu questiono do motivo de não ter escolhido ficar com a pílula azul. Não que a ignorância fosse boa, mas ela mais fácil, mais leve.
Mas, nem tudo são trevas. Durante a caminhada nesse campo do saber da política vascaína, surgem amigos que vai levar para vida toda! Parceiros profissionais, de chopp, de jogos, da política, sem dúvidas é o diferencial dessa maldita pílula vermelha escolhida! E é exatamente isso, mais o amor pelo Vasco, que faz continuar na loucura matrix vascaína! Naquela época (2009), éramos poucos, mais ou menos 10 mil sócios (no máximo), hoje somos 120 mil malucos, vivendo em uma realidade distinta dos demais, e que todo dia temos que lutar contra os Agentes Smith espalhados na Colina!