O PEQUENO PRÍNCIPE
Leandro A. Rodrigues
Como já disse, diversas vezes aqui, a minha base como torcedor vascaíno é a segunda metade dos anos oitenta, por isso, todas as vezes que vejo a camisa número oito do Vasco da Gama, automaticamente, lembro-me de Geovani Faria da Silva, o Pequeno Príncipe.
Nascido no dia 06 de abril de 1964, em Vitória, no Espírito Santo, o maestro vascaíno da minha infância iniciou a sua carreira profissional aos 16 (dezesseis anos) na Desportiva Ferroviária. Aos 18 (dezoito anos), foi transferido para o Gigante da Colina, onde disputou 408 jogos e marcou 49 gols. Em 1983, no dia 19 de junho, foi campeão do Mundial Sub-20, fazendo o gol do título contra a Argentina. Naquele torneio, o jogador vascaíno foi eleito o melhor do campeonato e o artilheiro, com seis gols. Em 1988, era o capitão do time que alcançou a medalha de prata contra a União Soviética, em Seul; mas, por estar suspenso, infelizmente, não jogou a final. Fato que, decididamente, desestabilizou o escrete brasileiro, pois, juntamente com Romário, era o destaque daquele torneio.
O apelido dado ao meio-campista vascaíno era, logicamente, em virtude de sua estatura: 1,68m. No entanto, devo acrescentar: 1,68m de puro talento. Para quem nunca viu nada sobre Geovani, irei descrevê-lo em poucas palavras: passe preciso, visão de jogo apurada, habilidade absurda e técnica inigualável. Foi o melhor batedor de pênalti que vi em toda a minha vida. Posso estar equivocado, mas tenho quase certeza de que perdeu, em toda a sua carreira, apenas um pênalti contra o Olaria, na Rua Bariri. A penalidade foi defendida pelo goleiro Wágner, que faria história, posteriormente, com a camisa do Botafogo. O camisa oito de São Januário jogava, sempre, de cabeça erguida. Possuía um domínio primoroso. Parecia que a bola colava em seus pés. Como era bom vê-lo em campo.
O Pequeno Príncipe, em 1989, foi vendido para o Bologna, da Itália, naquela que foi considerada, à época, a maior transação do futebol brasileiro (oito milhões de dólares). Depois, teve passagem, ainda, pelo futebol alemão (jogou no Karlsruher SC). Em 1991, retornou à Colina, onde ficou até 1993. Depois, foi para o Tigres, do México, e, em 1995, vestiu pela terceira (e última vez) a camisa vascaína. Depois disso, o meia passou por alguns clubes: XV de Jaú, Botafogo-PB, ABC-RN, Rio Branco-ES, Deportiva Ferroviária-ES, Linhares-ES, Serra-ES e Vilavelhense-ES.
Pelo Vasco da Gama, conquistou cinco campeonatos estaduais (1982, 1987, 1988, 1992 e 1993), três Taças Guanabara (1986, 1987 e 1992), quatro Taças Rio (1984, 1988, 1992 e 1993), uma Copa TAP (1987), uma Copa Ouro (1987) e um Troféu Ramón de Carranza (1987). Pela seleção brasileira, foi convocado 23 vezes e assinalou cinco gols, tendo conquistado a Copa América de 1989, a Copa do Mundo da FIFA Sub-20 (1983), o Sul-Americano Sub-19 (1983) e a prata nos Jogos Olímpicos de Seul (1988). Encerrou sua carreira em 2002.
Alguns fatos curiosos marcam a carreira de Geovani. Entre eles o que conseguiu, aos 16 anos de idade: a façanha de ser campeão, no mesmo ano (1980), em três categorias diferentes, defendendo as cores da Desportiva Ferroviária: pelo Juvenil, pelo Júnior e pelo Profissional. Naquele mesmo ano, a equipe grená realizou a melhor participação da história de um clube do Espírito Santo, no Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão, ficando entre os 16 melhores times da competição.
Certamente, muitos, ao verem, hoje, os lances de Geovani, dirão que ele não teria lugar no intenso futebol contemporâneo, uma vez que corria pouco. Todavia, creio que o maior absurdo existente no esporte seja tecer comparações entre tempos distintos. Cabe-me, apenas, dizer que Geovani foi um dos melhores do seu tempo. Foi um dos melhores do Vasco da Gama, um dos ídolos da minha infância e, em minhas peladas de meninice, sempre que alguém fazia um belo lançamento, dava um grande passe, cobrava uma falta com precisão ou convertia uma penalidade máxima, era automático dizer que tinha sido um lance à Geovani, em virtude do destaque do Pequeno Príncipe.
https://www.youtube.com/watch?v=qxg8zSmWbzY
Saudações Vascaínas!