PAIXÃO NÃO SE EXPLICA…
Leandro A. Rodrigues
Gosto de ir a estádios de futebol. Quando viajo com a minha família, um dos roteiros obrigatórios é a visita aos estádios locais. É um ponto turístico delicioso. Certa feita, ficamos uma noite em Porto Alegre, onde estávamos de passagem, apenas, para desfrutarmos da visita guiada ao novo Beira-Rio. Tudo isso ocorre, porque sou apaixonado por futebol. E, como sempre digo aos meus alunos, paixão não se explica…
Logicamente, a minha ida aos estádios não se resume aos momentos em que ele está vazio. Gosto de assistir a jogos de futebol nos estádios. A visão é outra. Ali, no estádio, de fato, vê-se o jogo. Na televisão, por uma limitação natural, vemos, somente, a bola. Quando estamos no palco sagrado, é possível observarmos o posicionamento dos jogadores, a atuação de um atleta sem a bola, a estrutura defensiva e ofensiva de uma equipe. Sei que, em casa, existe a comodidade e o conforto do sofá, a repetição do lance duvidoso; porém, há, também, as transmissões tendenciosas, as informações excessivas dos profissionais envolvidos que, infelizmente, por vezes, esquecem-se do evento em si, esquecem-se de que o futebol é atrativo e prazeroso por ser futebol e que não necessita de tantos dados estatísticos desinteressantes para continuarmos a vê-lo. Em meu íntimo, costumo fazer a seguinte analogia: assistir a um jogo de futebol no estádio é como a leitura de um livro. Você vê além das palavras, ou seja, enxerga além da visão; enquanto assistir a um jogo de futebol pela televisão, é como assistir a um filme, guiado pela câmera do diretor, ou seja, você só vê o que quiserem que você veja.
Como relatei na crônica da semana passada (“O Canto da Torcida”), consegui estender a minha paixão de ir assistir aos jogos de futebol, nos estádios, aos meus dois gêmeos. Infelizmente, por causa da violência, acabamos indo menos aos campos de futebol do que desejaríamos, mas, quando vamos, gostamos de chegar antes. Gostamos de escolher
calmamente o lugar. Gostamos de presenciar o aquecimento dos jogadores. Gostamos de presenciar a chegada da torcida, preenchendo os espaços, como se fossem formigas em volta de um doce. Gostamos de entoar os cantos com a torcida. E, assim, em família, transformamos aqueles noventa minutos em um recorte da vida (como já relatei na crônica “Futebol – Metáfora da Vida”).
Numa dessas idas ao Maracanã, aconteceu algo que retrata bem o que acabei de citar acima. Era o dia 07 de abril de 2019. Vasco e Bangu duelavam pela semifinal do Campeonato Carioca. O jogo já caminhava para o fim. O Vasco vencia por 2 a 1. Com esse resultado, o nosso Gigante estava indo para a final do returno. Como é algo que acontece naturalmente, Vini, Fael e eu derramávamo-nos de emoção. Havia uma coreografia sintonizada: ora nos levantávamos, ora nos sentávamos. Juntos, estávamos sofrendo, comemorando e gritando pelo nosso VASCÃO. Bem no finalzinho do jogo, houve uma confusão perto da bandeira de escanteio. O jogo ficou paralisado. Mais uma vez, ficamos de pé. Vini, com a naturalidade da nossa convivência, ao meu lado, passou a mão esquerda sobre os meus ombros. Fael, nervoso, tensionou as mãos contra a própria cintura. Eu, simplesmente, abracei os meus rebentos, com o instinto paterno de proteção e de alegria. De repente, senti um toque em meu ombro. Olhei para trás e era uma senhora, que estava acompanhada por uma adolescente e por um senhor. Ela se virou para mim e disse:
– Venho ao Maracanã há muitos anos e, poucas vezes, presenciei uma cena tão bonita quanto à que vocês me proporcionaram nesta tarde. Durante todo o jogo, falei com a minha filha como foi bonito de ver de vocês. Você tem um celular para eu tirar uma foto de vocês três, assim, como estão agora? É preciso registrar este momento!
Sem saber o que dizer, apenas liguei a câmera do celular e passei o aparelho para ela. Em seguida, ela tirou a foto (que ilustra esta crônica), devolveu-me o celular e fez-me uma pergunta retórica: como explicar o que o futebol faz com a gente, né?
Sorri e, com uma certeza inefável, disse para ela o mesmo que sempre falo para os meus alunos: “Paixão não se explica!”
Saudações Vascaínas!