RECOMEÇAR É PRECISO
Leandro A. Rodrigues
Aos que têm me acompanhado aqui, neste espaço do “Papo de Domingo”, peço-lhes desculpas, pois irei interromper, momentaneamente, a série sobre os meus ídolos vascaínos para tratar de um tema que julgo necessário e oportuno, neste momento: o recomeço.
Esta crônica será publicada no dia domingo, dia 23/05/2021, e, por isso, os nossos leitores já saberão qual foi o resultado do jogo entre Vasco da Gama e Botafogo, pela disputa do prêmio de consolação deste ano, a Taça Rio. No entanto, estou a escrevê-la no sábado, dia 22/05/2021, pela manhã, ou seja, ainda não sei o resultado do jogo; portanto não posso comentar acerca da partida, mas devo e quero tecer comentários sobre o momento que há de começar assim que terminar a citada partida.
Independentemente do resultado, o mais importante para nós, vascaínos, em 2021, é o retorno ao lugar de onde jamais deveríamos ter saído: a primeira divisão. E, de preferência, se possível, sem maiores sustos e/ou sobressaltos. Tal caminhada começará na semana que vem, mais especificamente, no dia 29/05/2021, sábado, às 11h00min, em São Januário, contra o Operário-PR. Infelizmente, ainda não será possível o apoio presencial de nossa torcida. E, não querendo ser pessimista, pela lentidão com que ocorre a vacinação no Brasil, acho que teremos de passar pelo calvário da Série B, ainda, sem a presença do público nos estádios.
Plutarco, in “Vida de Pompeu”, diz-no que no século I a.C., o general romano, Pompeu, para encorajar os marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cunhou a frase em latim: “Navegare necesse; vivere non est necesse”. Numa livre tradução, seria algo como “Navegar é necessário, viver não é necessário”. No século XIV, o poeta italiano, Petrarca, transformou a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Já no século XX, o poeta português, Fernando Pessoa, tornou famoso o lema, ao escrever o famoso poema “Navegar é Preciso”.
Muitos devem estar se perguntando: o que isso tem a ver com futebol e com o nosso Gigante da Colina? Posso-lhes afiançar: tudo! A frase de Petrarca traz em si um jogo semântico que podemos transferir para os dias atuais, para a realidade do nosso amado clube: “Navegar é preciso”, ou seja, é necessário. No entanto, navegar é algo que exige precisão. Escala certa. Mapa respeitado. Caso contrário, perde-se o rumo. Em contrapartida,
viver não tem precisão. A vida não nos dá uma certeza quanto aos fatos. Não nos é possível cravar o que irá acontecer com cada um de nós, isto é, não há mapa para os itinerários da vida. Paralelo a isso, o grande poeta português não abandona a ideia original dos navegadores antigos, que queriam mostrar a importância da navegação, a fim de se obter grandes conquistas, abrindo mão, desse modo, da própria vida, uma vez que a mesma passa a ser considerada desnecessária, por isso “Viver não é preciso”.
Dito isso, podemos voltar ao Vasco da Gama e, analogamente, podemos dizer que, ao Cruz-Maltino, “Recomeçar é preciso”. O que quero dizer é: para voltarmos à elite, precisamos seguir um roteiro meticuloso de reconstrução do nosso club. Precisamos, como já disse aqui, na crônica “Eterno Gigante”, saber que um Gigante, mesmo caído, continua Gigante. Por isso, o recomeço é imprescindível, necessário e preciso. Preciso, no sentido de vital; mas, também, preciso, no sentido de algo planejado, algo feito com precisão.
Que tenhamos, de fato, em nossa mente que, neste momento, mais do que nunca, para não sofrermos novamente com os mares agitados da Série B, recomeçar é preciso.
Saudações vascaínas!