BISMARCK: O MENINO-PRODÍGIO VASCAÍNO
Leandro A. Rodrigues
Estamos no ano de 1988. Para sermos mais específicos, trata-se de um domingo, 29 de maio. Um menino de oito anos de idade está sentado, diante da televisão, assistindo à, (hoje, extinta) TV Manchete. A narração é do saudoso Paulo Stein que, infelizmente, deixou-nos no último dia 27 de março, vítima das complicações da COVID-19. É a transmissão da Final da Taça-Rio daquele ano. O coração do menino está apertado, pois o Tricolor das Laranjeiras está vencendo por 1 a 0, gol de Tato, marcado aos 38 minutos do primeiro tempo. O menino está bastante chateado, pois o árbitro do jogo, Aloísio Viug, anulou um gol do zagueiro Fernando. Aparentemente, a posição era legal. Estamos no segundo tempo, e o Gigante da Colina, time de coração do menino, está pressionando, mas não consegue marcar. O cronômetro marca 20 minutos, e o técnico Sebastião Lazaroni acaba de realizar uma substituição: Bismarck, de 18 anos, no lugar de William. Aos 36 (quase 37) minutos, o lateral-direito Paulo Roberto cobra uma falta. A bola vai perfeita na cabeça do menino que acabou de entrar. Ele cabeceia. O goleiro Paulo Vítor espalma e, no rebote, o ponta-direita Vivinho marca o gol de empate. O menino enlouquece. Grita e comemora. No entanto, um pouco mais de dois minutos depois, Romário dá uma arrancada impressionante. A bola sobra para Vivinho. O camisa sete rola para o Baixinho. Romário dá uma furada inesquecível, porém o errado acaba dando certo. O atacante vascaíno, ao errar, engana a zagueira inteira do Fluminense e, em seguida, a bola sobra livre para o camisa número 16, que entrara há 19 minutos. Bismarck, com o gol aberto, de perna direita, empurra a bola para o fundo das redes. O menino sai correndo como um louco. Grita absurdamente. Fica rouco de forma instantânea. Entoa o hino do Club de Regatas Vasco da Gama a plenos pulmões: Vasco da Gama, campeão da Taça Rio de 1988.
A narrativa acima é tão detalhada, pois o menino em questão é, agora, o autor desta crônica. Foi, para mim, um dia inesquecível. E, nas gavetas da minha memória, foi a primeira vez que o nome de Bismarck ganhou marcas mais profundas em minha vida de torcedor. Sei que não foi o seu primeiro jogo como profissional. No entanto, foi, naquele momento, que o nome do jovem meio-campista/atacante passou a figurar entre os meus jogadores de futebol de botão.
Bismarck Barreto Faria nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, no dia 11 de setembro de 1969. O menino chegou ao futebol de salão de São Januário aos oito anos de idade. Estreou entre os profissionais em um amistoso, no dia 29 de agosto de 1987, na vitória do Vasco por 4 a 0 contra o Operário de Vargem Grande (MT). Ele entrou no segundo tempo, no lugar de Roberto Dinamite.
O jogador marcou o seu primeiro gol entre os profissionais no dia 06 de dezembro de 1987, em um amistoso contra o Combinado de Codó (MA). Na oportunidade, o Time da Colina venceu por 6 a 0 e, neste jogo, o jovem jogador vascaíno fez três gols (os outros foram de Osvaldo [2] e de Mazinho).
Ele atuou pelo Vasco até 1993. Depois, transferiu-se para o futebol japonês, onde atuou por Tokyo Verdy (1993-1996) e por Kashima Antlers (1997-2001). Em 2002, regressou ao futebol brasileiro, tendo uma rápida passagem por Fluminense e Goiás. E, por fim, em 2003, retornou ao Japão e atuou pelo Vissel Kobe até 2005, quando se despediu dos gramados.
Bismarck também atuou pela seleção brasileira em treze oportunidades e fez parte do grupo que foi à Copa da Itália (1990), mas sequer entrou em campo.
Pelo Gigante da Colina, conquistou três estaduais (1988, 1992 e 1993), duas Taças Guanabara (1990 e 1992), três Taças Rio (1988, 1992 e 1993), um Ramón de Carranza (1988) e um Brasileiro (1989). Vestiu a camisa cruz-maltina em 301 jogos e fez 109 gols.
Bismarck era um meia habilidoso que batia na bola com extrema facilidade. Graças à insistência do pai (que aumentava a mesada dele a cada gol feito com a perna esquerda), tornou-se ambidestro. Em campo, era um jogador focado e talentoso. Prova disso foi que, em 1988, em uma entrevista, Roberto Dinamite (um dos ídolos de Bismarck) declarou sem cerimônias: “O Vasco da Gama já tem meu sucessor natural. Chama-se Bismarck”.
Por causa de Bismarck, no dia 30 de maio de 1988, ao ir para a Escola, na banca de jornal, ainda rouco, li, em letras garrafais: “Vasco vira o jogo, derrota o Flu e fica com o título”.
Foi a primeira vez que ouvi que o Vasco era o time da virada. Tudo isso graças a Bismarck, o “Menino-Prodígio Vascaíno”.
Fluminense 1 x 2 Vasco da Gama:
Gols de Bismarck pelo Vasco:
https://www.youtube.com/watch?v=hLsaxPmqPrw
Saudações vascaínas!