Vasco destaca honraria portuguesa para ter ‘Real’ no nome: “hoje há a autorização do clube em usar o termo junto ao nome do clube, bem como da Coroa Portuguesa no escudo do Vasco. O que houve foi a restituição ao Vasco de uma dignidade que teria recebido no início do século XX”
Por Fabio Ramos
Você já deve ter visto que muitos clubes europeus, principalmente de Portugal e Espanha possuem o prefixo ‘Real’ no nome oficial. E isso não surgiu junto da fundação dos mesmos, mas sim depois que tais equipes conquistaram o apoio da Casa Real Portuguesa e Espanhola – a presença da realeza no futebol espanhol, aliás, é bastante abrangente e notória – não apenas nos escudos e nomes dos clubes, como Real Madrid, Real Betis, Real Valladolid, Real Zaragoza), mas também nas demais federações locais e na do futebol no país, a chamada Real Federação Espanhola.
E o Vasco já passou por algo semelhante, com a de Portugal é claro. Quando recebeu do Chefe da Família Real Portuguesa o título de “Real Sociedade”, que viria no início do século XX mas por conta do assassinato do Rei Dom Carlos II, acabou sendo concedido tardiamente, como foi publicado pelos jornalistas Alexandre Araújo e Bruno Braz, do UOL. Afinal, a partir desta sexta-feira (11), o clube incluiu no Tour da Colina a exposição “Club de Regatas Vasco da Gama: o traço de união Brasil-Portugal”. A ideia da cúpula é, além de reavivar as raízes lusitanas, também aumentar o alcance do Vasco na Europa. Há a leitura que a iniciativa pode estreitar laços e abrir possibilidades para novos investidores.
Na exposição, é possível observar um Alvará Régio de 2017, assinado por Dom Duarte de Bragança, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real Portuguesa, em que é renovado e conferido ao clube o direito de se intitular Real Clube de Regatas Vasco da Gama e, ainda, “timbar e encimar o seu escudo de armas com a Coroa Real Portuguesa, de acordo com a tradição”. A honraria, como foi citado no início, demonstra um apoio da antiga Coroa e do chefe da Casa Real àquele clube. O que é bastante comum na também mencionada Espanha.
No caso do Vasco a honraria seria concedida em 1908 – quando o clube tinha apenas uma década de existência -, por ocasião da visita do Rei de Portugal Dom Carlos I ao Brasil. Porém, acabou impedido pelo episódio conhecido como Regicídio de 1908, que foi o assassinato do Rei D. Carlos I de Portugal e dos Algarves e de seu herdeiro Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal. A autoria do ato foi atribuída aos carbonaros simpatizantes do movimento republicanos auxiliados por políticos antimonarquistas. D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, com apenas 18 anos subiu ao trono, mas não conseguiu conter o movimento, tendo sido deposto em 1910 com a implantação da República Portuguesa.
Desta forma, apenas em 2017, no dia em que completou 119 anos, o clube de São Januário recebeu finalmente o título de Real Sociedade, através do Decreto de Alvará Régio do Chefe da Casa Real Portuguesa, Dom Duarte Pio de Bragança. “Em 1908, [o título] tinha um caráter soberano. Portugal era uma monarquia com caráter constitucional. Hoje, tem um caráter mais restrito, mas autoriza a usar o termo “Real” junto ao nome do clube, bem como da Coroa Portuguesa no escudo do Vasco. O que houve foi a restituição ao Vasco de uma dignidade que teria recebido no início do século XX”, contou o pesquisador vascaíno Henrique Hübner, que foi ex-diretor do Centro de Memória do clube, em entrevista especial ao UOL.