AMOR INCONDICIONAL
Leandro A. Rodrigues
Às vezes, quando há frustrações em demasia, costumo-me perguntar: como seria a minha vida sem o futebol? Falar sobre o improvável e sobre o inexistente é algo difícil, pois são apenas conjecturas. Nunca é realidade. Sei, apenas, que, sem o futebol, a minha vida seria um pouco vazia. Creio que faltaria algo que o esporte bretão me completa.
Certa feita, um comentarista esportivo, numa atitude corajosa e exageradamente sincera, disse que um dirigente lhe falou que, se os torcedores soubessem o que acontece nos bastidores do futebol, certamente, nunca mais torceriam. Quando me lembro dessa fala dele, costumo, em meu íntimo, dizer: ainda bem que não sei.
Gosto do futebol pelo futebol. Gosto do jogo. Gosto da emoção que envolve o momento. Gosto de assistir a uma jogada. Emociono-me com um drible. Vibro com um lançamento. Sinto, na pele, a realização da autoria de um gol. Não há explicação para isso. Aliás, nós, seres humanos, deixamos de aproveitar o instante, pois queremos explicação para tudo. Em relação ao futebol, não quero definições tampouco concretização de teorias. Quero, tão somente, apreciá-lo.
Não suporto os rótulos que imprimem aos campeonatos e ao jogo em si. Para mim, muitas vezes, um jogo de várzea é melhor do que uma final profissional. Não consigo, como muitos o fazem, pôr o futebol em uma prateleira comercial e precificá-lo de acordo com a competição. Tenho consciência da diferença entre cada uma delas, mas, no fundo, para mim, o importante é o jogo. Sendo assim, assisto a tudo. Paro para ver qualquer jogo. Não importa a nacionalidade, pois gosto mesmo é do futebol.
Desde criança, admiro os estaduais, com toda a magia das rivalidades locais. Vibro com as competições mata-mata, em que é necessário eficiência. Acostumei-me com os pontos corridos, onde todas as rodadas, em tese, têm o mesmo valor, e a regularidade premia o mais constante. Encanto-me com as competições internacionais, que nos apresentam um choque cultural e escala de valores distintas das nossas.
Falar sobre o que sinto com o futebol é uma tentativa de explicar o inexplicável. Como explicar o acelerar do coração, a sensação de boca seca, a explosão da vitória, a dor da derrota, a desesperança do empate. Tudo é muito vago, mas, ao mesmo tempo, amplo e concreto em sua subjetiva abstração.
Pouco sei explicar. Sempre que tento uma explicação plausível para isso, sinto-me Sócrates, porque “só sei que nada sei”. Na verdade, devo corrigir-me. A respeito do assunto, sei sim: gosto de futebol e amo, incondicionalmente, o Vasco da Gama.
Saudações vascaínas!