“OLHO NO LANCE!”
Leandro A. Rodrigues
Em outras colunas, aqui, neste espaço, já falei acerca da paixão que nutria (e nutro) por futebol de botão. Na minha infância, era um momento de satisfação e de prazer garantidos. Ficava horas e horas, debruçando sobre o tabulário de futebol de mesa, comandando as ações dos meus craques redondos.
Havia todo um ritual para a brincadeira começar. Primeiro, existia uma música de abertura para que eu pudesse começar a transmissão daquele evento esportivo, tendo direito a vinhetas para os times, para os repórteres e para o narrador, conforme, ainda hoje, acontece nas estações de rádio. Depois, o narrador fazia a saudação aos telespectadores e convocava os repórteres, que, na beira do gramado, pronunciavam, a plenos pulmões, as escalações, dando destaque para o nome e para o número da camisa de cada jogador, de cada time. Em seguida, o narrador, como bom anfitrião, dava as boas-vindas ao comentarista, fazendo-lhe a pergunta de praxe: o que poderíamos esperar daquele confronto? É importante dizer que eu desempenhava as quatro funções, modificando a voz para cada personagem que surgia. Naquele momento, instintivamente, eu imitava os meus grandes ídolos da cobertura esportiva. Ao fazer o primeiro repórter, imitava Deni Menezes. Ao reproduzir o segundo repórter, repetia os bordões de Gilson Ricardo. Em relação aos comentaristas, fazia uma mistura de Washington Rodrigues, de Luiz Mendes e de Sérgio Noronha. E, por fim, ao reproduzir o narrador, de mim surgia uma simbiose, algo que misturava o Luciano do Valle, o Silvio Luiz e o José Carlos Araújo.
Era uma verdadeira festa!
Havia o pré-jogo, quando os jogadores entravam em campo para o reconhecimento do gramado. Quando os jogos eram da seleção brasileira, o hino nacional fazia-se presente. E, nas grandes finais, sempre, o hino do Vasco da Gama tocava, afinal, como jogava sozinho, em meus sonhos de criança, o Gigante da Colina era supercampeão, de preferência, de forma invicta.
Sozinho, em casa, tornava os botões os meus grandes amigos. Sozinho, em casa, reproduzia os bordões dos grandes mestres: “a bola foi lançada no costado da zaga” (Luciano do Valle); “vai mais, vai mais, vai mais, garotinho” (José Carlos Araújo); “pelas barbas do profeta” (Silvio Luiz). Sabia, de cor, cada propaganda que iria pronunciar a cada
saída da bola. Convocava a presença dos repórteres a cada lance de bola parada. E, apressadamente, solicitava o auxílio dos comentaristas em cada jogada bonita ou bem realizada.
Não apenas os jogadores eram os meus ídolos, em minha infância. Conhecia todos os narradores. Além dos meus três maiores ídolos, gostava de muitos outros: Oliveira Andrade, Luiz Alfredo, Natan de Oliveira, Galvão Bueno, Edson Mauro, Luís Carlos Silva, Jota Júnior, Alexandre Santos, Osmar Santos, Januário de Oliveira.
Hoje, sei que existem grandes e excelentes narradores. Gosto de perceber os bordões que caracterizam cada um: “chamou para o X1” (Daniel de Oliveira), “joga a luva, goleirão” (Gustavo Vilani), “você é ridículo” (Everaldo Marques), “olha ele aí” (Jáder Rocha), “é do jeito que ele gosta, é do jeito que ele sabe” (Luís Carlos Júnior), “que desagradável” (João Guilherme), “que beleza” (Milton Leite). Dou muitas risadas com Milton Leite.
No entanto, sei que a minha memória afetiva me leva a acreditar que nada supera os grandes mestres de minha infância. Fecho os olhos e ouço, direitinho: “Olho no lance!!!!”. E, na apreensão, fico aguardando, esperançoso, o momento seguinte, para saber se o gol foi do “Machão da Gama”.
Saudações Vascaínas!