Por: Luiz Thiago
Nesta primeira coluna, gostaria de inverter a ordem natural das coisas. Normalmente, agradecimentos são feitos em ocasiões de despedidas. Mas eu gostaria de estrear neste nobre espaço quebrando o protocolo. Nas linhas a seguir, trocarei o “muito prazer” pelo “obrigado”.
Primeiramente, sou grato ao espaço a mim concedido. Falar – ou escrever – sobre o Vasco é sempre um prazer, apesar dos tempos sombrios pelos quais passamos. Mas nem sempre foi assim. E é justamente por isso que optei por agradecer, neste texto inaugural, a uma parcela fundamental da torcida: os vascaínos de vinte e poucos anos.
Se você, caro leitor, está nesta faixa etária, sinta-se abraçado. Só de estar aqui, neste espaço dedicado à nossa comunidade, você é um resiliente. Aos vinte e poucos anos, você presenciou mais rebaixamentos do que títulos importantes. Testemunhou mais vexames do que triunfos. E as lágrimas que rolaram no seu rosto foram, em sua maioria, de tristeza. Ainda assim, você seguiu. E está aqui, lendo as palavras de um vascaíno, como você, que teve a sorte de nascer uma década antes.
Não encare meu breve relato como uma demonstração de soberba. A retrospectiva a seguir é apenas uma demonstração de que o passado glorioso não está assim tão distante. Tentarei ser conciso, prometo.
Ainda que guarde alguns flashes do gol do Sorato, no Morumbi, não seria honesto adicionar o Bicampeonato brasileiro, em 1989, ao meu currículo de torcedor. Iniciarei a contagem, então, três anos mais tarde, com a conquista invicta do Estadual de 92. Aos 8 anos de idade, já me considerava apto a entender a dinâmica do jogo e, talvez pela primeira vez na vida, senti na pele “a dor e a delícia” de ser torcedor. Felizmente, em um time que contava, entre outros, com Dinamite, Edmundo e Valdir, era natural que as delícias se sobressaíssem. Nos dois anos seguintes, Valdir, em 93, e Jardel, em 94, foram os expoentes das conquistas que culminaram com o tricampeonato carioca. E aqui vai uma ressalva importante: o campeonato estadual tinha um peso muito maior naquela época.
Em 97, Edmundo bateu recordes, humilhou o rival e conduziu o Vasco ao tricampeonato nacional. No ano seguinte, a glória máxima: Libertadores no ano do Centenário. Aos 14 anos, minhas preocupações se resumiam a tirar boas notas e a voltar pra casa a tempo do Globo Esporte. Torcer para o Vasco era muito fácil, caro leitor.
Três anos mais tarde, a épica virada sobre o Palmeiras, no campo do adversário. A retomada mais extraordinária de que sem tem notícia. Em breve, dedicarei uma coluna a este capítulo único na história do nosso amado clube. Seguindo a trilha dourada, o Tetra brasileiro veio em janeiro de 2001, comandado por um certo Baixinho no ataque. Aquela conquista talvez tenha sido o episódio final da “Década de Ouro”. Infelizmente, vascaíno de vinte e poucos anos, você só pôde acompanhar pelo youtube.
Obviamente, a trajetória não foi marcada apenas por glórias. Frustrações também fizeram parte da rotina. As derrotas nos Mundiais de 98 e 2000 e o fatídico gol de falta sofrido por Helton na final do Carioca de 2001 doeram demais. Só que a bonança sempre chegava após as tempestades. Até que parou de chegar.
A Copa do Brasil de 2011 talvez tenha sido o único ponto de convergência, em relação a conquistas relevantes, que tivemos em comum. Você, no começo da adolescência, provavelmente assistiu à “Batalha do Couto Pereira” pela TV. Eu, mais perto dos 30, estava lá, passando frio na capital paranaense. Mas isso não me faz melhor do que você. Afinal, pela TV ou in loco, tenho certeza de que ambos colocamos o coração à prova naquela noite.
O que eu mais quero, prezado leitor, é que voltemos a compartilhar sensações como aquela. Você, vascaíno de vinte e poucos anos, merece. Após décadas de desmandos administrativos, se continuamos de pé, ainda que cambaleantes, é por sua causa. É o seu amor que faz com que o Vasco continue gigante. E é justamente por ajudar a manter o “meu primeiro amigo” vivo que eu gostaria de dizer a você nesta minha estreia: obrigado.