É necessário dar aos nossos ídolos vida eterna e as honras que merecem, mesmo que tardiamente.
Para nós, torcedores do Vasco, Barbosa é um dos maiores ídolos e motivo de grande orgulho. Ele está no painel que adorna São Januário e é, até hoje, adorado por nossa torcida. O novo centro de treinamento do clube, ainda sem nome e em fase final de construção, merece ter o nome daquele que por anos foi injustiçado, mas que deveria ser reconhecido e idolatrado por todo país.
O maior goleiro da história do Vasco se chama Moacyr Barbosa Nascimento ou só Barbosa. Nascido em Campinas, em 1921, o goleiro fez parte do Expresso da Vitória, um dos maiores times da história do Vasco e que venceu Campeonato Sul-Americano de Campeões (precursor da atual Libertadores da América) em 1948.
Para o resto do povo brasileiro, entretanto, ele é lembrado de forma diferente, muitos o culpam pela derrota brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, para o Uruguai, no Maracanã. O Maracanazo, nome dado para a derrota lendária da seleção, foi considerado por anos como a maior vergonha brasileira num mundial, até recentemente, ser destronado pela partida contra a Alemanha, no Mineirão, em 2014.
O fato é que Barbosa levou até o túmulo a culpa pela derrota sem nem ao menos merecê-la, pois foi considerado o terceiro melhor goleiro brasileiro do século XX. Portanto, colocar somente sobre ele a culpa pelo gol de Alcides Ghiggia é, no mínimo, injusto. E mesmo que tivesse cometido um erro durante a partida provocando a derrota da equipe, o fardo que carregou até seu falecimento, em 2000, vai bem além da fronteira do futebol. Em um Brasil que aprendeu a não valorizar seus atletas negros, Barbosa é o bode expiatório ideal para aqueles que sempre acham na raça um lugar para destilar seu ódio. Ou alguém tem alguma dúvida de que seria diferente caso sua cor fosse branca?
O futebol é um reflexo da sociedade, observá-lo é uma forma de analisar aspectos diversos do local e dos costumes onde vivemos. O cronista Armando Nogueira definiu Barbosa da seguinte forma:
“Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera.”
Quanto ao centro de treinamento, feito inteiramente com doações de torcedores de todas as classes, é necessário que façamos um esforço para reparar erros históricos e dar o devido reconhecimento a figuras que contribuíram para aquilo que somos hoje. Não seríamos campeões sul-americanos em 48 se Barbosa não tivesse defendido um pênalti contra o River Plate. A reverência ao ídolo é uma das coisas que faz desta torcida tão única e, cabe a ela, agora, reparar o maior erro do futebol brasileiro dando a Barbosa aquilo que é seu por direito, mesmo que o próprio já não esteja entre nós para ver.
Dentre todos os ídolos da vasta história vascaína, nenhum merece tanto tal reconhecimento quanto Moacyr Barbosa Nascimento. Se hoje representamos os camisas negras e nos orgulhamos da Resposta Histórica, é nosso papel eternizar o nome daquele que nos defendeu até de mãos trocadas.