“AH! É EDMUNDO!!!!”
Leandro A. Rodrigues
Existem relacionamentos repletos de idas e vindas. Não estamos aqui para fazer nenhum juízo de valor, pois cada um sabe dos seus anseios e dos seus sentimentos em cada instante. No entanto, a forma avassaladora, com que os reencontros acontecem, e a intensidade do cotidiano da relação marcam-nos profundamente e ganham um destaque incomensurável aos olhos daqueles que estão à margem, assistindo a tudo.
Tudo o que acabei de dizer acima resume o relacionamento de Edmundo Alves de Souza Neto com o Club de Regatas Vasco Gama e sua torcida.
Lembro-me do primeiro jogo de Edmundo pelo time profissional do nosso Gigante da Colina: 26 de janeiro de 1992. Foi no Pacaembu, na estreia do Campeonato Brasileiro daquele ano, contra o Corinthians. O Vasco venceu o Timão por 4 a 1 com dois gols de Bebeto, um de Sorato e outro do zagueiro Jorge Luís. Mesmo tendo um jogador a menos, desde os dez minutos do segundo, quando Luisinho Quintanilha foi expulso, e o time cruz-maltino ganhava apenas por um a zero, o Vasco obteve um grande resultado, na casa do adversário, e o menino Edmundo, prestes a completar 21 anos de idade, chamou a atenção dos torcedores vascaínos, em virtude de seus passes certeiros, arrancadas empolgantes e dribles espetaculares.
Com a naturalidade da vida, o tempo passou. Edmundo, como bom profissional, buscou novas realidades para a sua vida. Jogou no Palmeiras, onde foi ídolo e, até hoje, é considerado um dos maiores da história do clube alviverde. Depois, jogou no Parma, no time da Gávea e no Corinthians. Em 1996, retornou para São Januário. Fez história no time campeão brasileiro de 1997, batendo o recorde de jogador com maior número de gols em uma só edição do Campeonato, 29 gols (O recorde, até então, era de Reinaldo, do Atlético-MG, que marcara 28 gols no campeonato de 1977. Em 2003, pelo Goiás, Dimba marcou 31 gols. E, por fim, em 2004, Washington, pelo Athlético-PR, marcou 34, sendo, até hoje, o recordista de gols em uma só edição do Campeonato Brasileiro). Naquela mesma edição, houve outro recorde, até hoje não superado: o de jogador com mais gols em uma só partida de Campeonato Brasileiro, quando, no dia 13 de setembro de 1997, assinalou seis tentos contra o União São João de Araras, sendo o primeiro deles o mais rápido da edição daquele ano, aos 27 segundos de jogo.
Após a conquista do título brasileiro, Edmundo foi para a Fiorentina, da Itália. Jogou no time italiano entre 1998 e 1999. Voltou ao Vasco da Gama para a sua terceira passagem entre os anos de 1999 e 2000. Depois, passou por Santos, Napoli e Cruzeiro, por quem, no dia 03 de outubro de 2001, protagonizou uma situação inusitada. Num jogo contra o Vasco, em São Januário, mesmo estando com a camisa celeste, teve o nome gritado pela torcida vascaína e, após entrar no segundo tempo da partida, perdeu um pênalti e foi ovacionado pelos torcedores da “imensa torcida” (Edmundo também não converteu pênaltis contra o Vasco em 2000, pelo Santos; e, em 2006, jogando pelo Palmeiras). Depois do citado episódio, o Animal (apelido dado pelo narrador Osmar Santos) jogou no Japão, defendendo as cores do Tokyo Verdy e do Urawa Red Diamonds. Retornou a São Januário para a sua penúltima passagem (2003 e 2004). Teve rápida passagem por Fluminense, Nova Iguaçu e Figueirense (defendendo as cores do time catarinense, no Orlando Scarpelli, no dia 16 de novembro de 2005, Edmundo fez três gols contra o Vasco). Entre 2006 e 2007, passou, novamente, pelo Palmeiras e, em 2008, encerrou a carreira onde começou, ou seja, no Gigante da Colina.
A identificação de Edmundo com o Vasco é algo que, até hoje, é capaz de arrepiar os torcedores vascaínos. As suas grandes atuações, principalmente, contra o maior rival (ao todo fez 14 gols contra o time da Gávea), trazem lembranças benfazejas a todos que presenciaram aqueles momentos. Em São Januário, o atacante é reverenciado pelos gols, pelos dribles, pelas polêmicas e pelas constantes declarações de amor para com o clube do coração.
Como amante do futebol, posso dizer que ver Edmundo jogar foi uma dádiva. Como torcedor do Vasco, vê-lo em campo com o nosso manto foi, simplesmente, uma bênção. Ele trazia a nós, torcedores do Gigante da Colina, sempre uma esperança de algo bom. Recordo-me, como se fosse hoje, de detalhes do dia 21 de dezembro de 1997, segundo jogo da final do campeonato brasileiro contra o Palmeiras. Aos dezoito anos de idade, eu era um dos 89.900 presentes no Maracanã. Consigo, quando fecho os olhos, lembrar-me da atmosfera da partida; da Unidos da Tijuca, na entrada do estádio, tocando e cantando o seu samba-enredo de 1998, que homenagearia o clube cruz-maltino; do telão, mostrando o primeiro título da seleção brasileira, na Arábia Saudita, por 6 a 0 contra a Austrália, com o show dos carecas Ronaldo e Romário (cada atacante fez três gols naquele jogo). No entanto, o que mais me vem à memória são os lances de Edmundo naquele jogo: no primeiro tempo, quando, no meio de campo, chamou o meio de campo Rogério para dançar, com um drible desconcertante; quando cobrou uma falta que explodiu no travessão
de Veloso. No segundo tempo, quando pressionou a saída de bola da zaga alviverde, recuperou a bola e obrigou o zagueiro Cléber a evitar o gol, em cima da linha; quando, dentro da área, passou entre Cléber e o lateral-esquerdo Júnior, numa jogada genial, mas foi parado por excelente intervenção do goleiro Veloso. E, por fim, o principal, quando o juiz apitou o fim da partida e, em lágrimas, juntei-me ao coro dos vascaínos e gritamos, primeiro: “Fica Edmundo” (o jogador estava indo para a Fiorentina) e, depois, alucinadamente, festejamos, gritando: “Tricampeão!!!”. Com orgulho, posso, hoje, dizer aos meus filhos: eu estava lá. E, quase afônico, era uma das vozes a exprimir toda a alegria e gratidão ao nosso grande ídolo, entoando o: “Ah! É Edmundo!”.
Saudações Vascaínas!