Ao Globoesporte.com, o técnico Zé Ricardo contou detalhes importantes sobre a sua saída para o futebol japonês, e também dos desafios que ele espera na Terra do Sol Nascente
A ida para o Shimizu S-Pulse, da J League, foi, segundo Zé Ricardo, hoje “Mister” e “Zé Ricaldo”, a “decisão mais difícil da vida”. No momento em que se firmava no G4 da Série B, o técnico balançou com a proposta: ficava para fazer um gigante brasileiro voltar à Série A, mas com a permanência ameaçada devido à chegada da SAF, ou viver num país de primeiro mundo ao lado da família?
Zé Ricardo até pediu para que aguardassem para a próxima temporada, mas o clube já havia demitido o técnico anterior:
“Ao clube daqui, cheguei a pedir que esperasse para o ano que vem, mas como eles tinham feito já a troca do treinador, falaram que não poderiam esperar, que teria que decidir rápido. Em uma semana acabei tomando a decisão“.
Ao podcast Gringolândia, do futebol internacional do GE, Zé Ricardo confessou que a proposta oficial acompanhada do contrato chegou após a partida contra o Grêmio, e de maneira muito rápida precisou tomar a decisão de ir ou ficar. Foi.
O convite do mercado japonês chegou uma semana antes do jogo contra o Grêmio. O treinador decidiu então comunicar o presidente Jorge Salgado para saber quais os planos para o futuro com ele. Salgado respondeu que se dependesse dele, mesmo com a vinda da SAF, Zé continuaria no comando. Houve, na análise do treinador, uma incerteza e por tal motivo resolveu aceitar a proposta japonesa.
Outro fator que contribuiu na tomada de decisão foi a ausência de comunicação por parte da 777 Partners e o técnico:
“Na verdade, alguns representantes das 777 estiveram no CT para conhecer a estrutura. Conversamos alguma coisa, mas muito en passant, a gente não teve nenhuma conversa visando o futuro. Não foi puxado esse assunto por parte deles, e obviamente me mantive na minha posição, pois a SAF não estava consolidada, e eu entendia que não deveria puxar esse assunto, que deveria partir deles. Mas eu estava muito feliz trabalhando no clube”
O convite para treinar o Vasco, feito ainda no final de 2021, fez com que Zé Ricardo criasse um laço maior com o clube. Foram dois times (22 atletas) contratados e, segundo o técnico, comprometidos com o projeto de devolver o Vasco à primeira divisão:
“Confesso que foi uma das decisões profissionais mais difíceis da minha vida, ter que sair. Até porque me sentia muito responsável por tudo aquilo que estava acontecendo com o Vasco, até pela primeira vez ter montado o elenco do zero, a dificuldade que passamos no Carioca, depois a retomada. A gente estava começando a crescer na competição, a gente tinha um caminho a seguir, que está sendo seguido pelas pessoas que estão lá. Mas tive que tomar a decisão, e agora é torcer aqui para que dê tudo certo lá e aqui também”
Zé no Japão
O técnico ex-Vasco não teve início positivo nessa que é a sua segunda passagem no futebol internacional. Só depois que o processo melhorou e a melhor sequência veio: 2 vitórias e 1 empate para ficar na 12a posição. Zé sabe que a realidade é de lutar contra o descenso.
Além do campo, a língua ainda é um desafio para o treinador brasileiro. A casa de Zé ainda não está toda mobiliada e ele ainda está num hotel. A diferença de fuso deixou de ser um obstáculo:
“A gente vai fazendo mímica. Uma coisa específica do povo japonês é que ele quer ajudar demais. No mercado, na rua, no transporte, se ele percebe que você tem uma dúvida, ele vai parar o que está fazendo para te levar. Dentro de campo, temos o tradutor, que é o nosso braço direito e acaba salvando a gente. No jogo é importante, a informação precisa ser rápida, ele tem que estar no nosso lado. Mas a gente acredita que com o tempo essas dificuldades vão diminuindo também“.
Zé já pediu frango e recebeu porco, mas espera mobiliar logo a casa para que possa fazer comida brasileira comprando no mercado de Hamamatsu: farofa, feijão, por exemplo. Mas ele não deixa de se aventurar pela culinária nipônica.
“Na verdade, estipulei isso para mim e minha família, depois de quatro anos como profissional no Brasil, ter uma experiência fora. Eu gostaria realmente de trabalhar fora do país, porque entendo que isso agregava muito à minha carreira profissional e à minha família, que sempre participou das minhas decisões e sempre esteve convicta que seria uma oportunidade para nós, minha esposa e meu filho, para poderem viver outra cultura, aprender outra língua“.
Zé vive em Shizuoka, onde está o Monte Fiji, ponto tradicional do Japão e que ainda não foi visitado pelo brasileiro.
Zé quer ajudar a que a JL volte a ser terra fértil para brasileiros. Emerson Leão, ex-goleiro do Vasco, já foi técnico do Shimizu. E na próxima rodada Zé enfrentará Nelsinho Baptista, tradicionalíssimo no futebol japonês.
Zé pensa em levar a família no ano que vem. Hoje conta com a ajuda e o carinho de cinco brasileiros no elenco. Os torcedores têm dificuldade fonética com a consoante “R”, por isso seu nome é pronunciado “Zé Ricaldo”.
“Às vezes, não conseguem escrever meu nome, porque dificilmente falar o R. Escrevem Zé Ricaldo. Mas os jogadores chamam de Mister. E me pediram um codinome, que aqui todo mundo tem. Eu falei “Coloca professor”, já que eu sou professor“.