Em que momento você percebeu a real possibilidade de que o Vasco fosse rebaixado nesta temporada? Alguns sempre tiveram esse medo, outros ligaram o alerta quando Ramon foi demitido e Sá Pinto assumiu. Meu alerta foi ligado quando um time sem nenhum poder de reação perdeu para o Coritiba, virtual rebaixado, em casa, após uma expulsão ainda no primeiro tempo.
Mas por que o Vasco foi rebaixado pela quarta vez? Não tínhamos um elenco com a mínima qualidade para nos manter ao menos tranquilos na Série A? Sim, tínhamos.
O que rebaixou o cruz-maltino não foi um simples jogo, foi uma série de ações e acontecimentos, todos iniciados no dia 19 de janeiro de 2018.
Uma ensolarada sexta-feira de janeiro, dia de eleição na sede náutica da Lagoa e, contrariando a história do clube, os conselheiros e beneméritos do Vasco elegem Alexandre Campello presidente do clube. Diferente da vontade dos sócios que queria Julio Brant comandando o clube.
Campello fez o que fez por que teve apoio de Eurico Miranda e Roberto Monteiro, figuras importantes da política vascaína e cuja vontade era de manter o status quo do clube. O então novo presidente assume sem qualquer projeto e com apoio escasso, que mais tarde se tornaria a sua principal oposição.
Os anos seguintes são de pouco futebol, dívidas cada vez maiores e uma pífia tentativa de reeleição motivada por ego e baseada no novo CT do clube, financiado pela torcida, e por uma reforma de São Januário que sequer tem previsão de sair do papel. Desde o momento em que foi eleito, Campello jamais teve chance de reeleição pelo voto dos sócios.
Se mantendo no poder respirando por aparelhos durante toda a gestão, Campello jamais teve visão de longo prazo para mudar o panorama do clube. Péssimas escolhas no departamento de futebol, contratações duvidosas e pouco resultado. Seu único acerto talvez tenha sido a contratação de Germán Cano.
Devido à pandemia, a gestão Campello terminou antes do fim do Brasileirão, então o rebaixamento aconteceu com outro presidente no poder, mas que pouco pôde fazer para mudar o estado deplorável do departamento de futebol. Quaisquer que fosse o resultado das eleições, o descenso seria inevitável. Os erros eram fatais demais e por muito tempo para que algo pudesse ser feito em 10 rodadas de campeonato, sem janela de transferências e sem caixa para nenhuma mudança que pudesse surtir real efeito.
Todo rebaixamento é causado muito mais por culpa de erros de diretoria do que desempenho dentro de campo, mas o quarto rebaixamento do Vasco é inteiramente causado pela incapacidade de uma gestão que já nasceu morta.
Tantos erros sérios cobram seu preço. Hoje, o Vasco tem o número igual de rebaixamentos e títulos brasileiros.
Agora, com menos receita com cotas de TV, com o ânimo da torcida cada vez menor e ainda distante de retornar aos estádios, o Vasco terá de se reconstruir novamente. Espera-se que da forma correta dessa vez. É mais do que necessário expurgar do clube aqueles que o levaram para a lama. A ruptura é questão de sobrevivência.
O letrista, compositor e cronista Aldir Blanc morreu em 2020 e não verá esse triste capítulo na história de seu clube, mas uma de suas frases mais famosas diz: “Se for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco.”
Torço para que o futuro nos dê um sorriso, que o Vasco retorne aos seus tempos áureos e que possamos ter momentos históricos e positivos. Para o ano de 2021, muita luta e a esperança de tempos melhores.