Existe um longo caminho a ser percorrido e várias formas de percorrê-lo. O sócio escolheu o caminho da segurança.
Durante todo o processo eleitoral do Club de Regatas Vasco da Gama, sempre vi de forma clara que o sócio tinha três opções: romper completamente com a forma que o clube é gerido, voltar a apostar na familiar megalomania ou trilhar o longo, responsável e mais seguro caminho da reestruturação financeira.
O sócio teve dificuldades, mas escolheu o caminho da responsabilidade que Jorge Salgado quer para o clube. Seu estilo pacífico e conciliador pode ajudar a resfriar o ambiente político do clube para que, enfim, possamos entrar no século 21.
Tal responsabilidade significa, de forma básica, gastar menos do que você arrecada. É uma completa mentira dizer que o Vasco foi austero em qualquer momento dos últimos 20 anos. A exceção talvez tenha sido, mais recentemente, quando os atuais dirigentes do clube adotaram uma postura de evitar aumentar o rombo de quase 650 milhões de dívida do clube, como salientou recentemente o jornalista Rodrigo Capelo.
Sendo assim, é importante e necessário que, a partir do início de 2021, quando Salgado assumirá o clube, que mudanças significativas cheguem ao time de São Januário. A primeira e mais importante delas: não se pode dever salários para os funcionários do clube, que ganham muito pouco, e merecem ter o pagamento em dia. Aos jogadores e atletas dos demais esportes, o mesmo direito deve ser assegurado sem atraso. No dia 5, nada de acordos.
Para ir além, finalizar o centro de treinamento da Cidade de Deus e dar melhores condições aos jogadores e jovens da base. Parte de mim, gostaria que o nome do local fosse uma homenagem ao lendário Barbosa, mas o mais importante é a garantia de ter todos os campos e a estrutura do futebol sólida é o maior objetivo.
Uma ampla reforma do estatuto é outro potencial marco da futura gestão, pois é preciso evitar que casos como das eleições recentes voltem a transformar o Vasco em chacota no noticiário. O atual estatuto está desatualizado, data de 1979, isso abre brechas para manobras e impede que os milhões de torcedores vascaínos possam ter sua voz respeitada no momento de escolher o que desejam. A nova gestão quer 40 mil votantes nas eleições de 2023, mas, para isso, temos que ter a votação com opção online, sem confusão, tiros e intimidação nos portões de São Januário.
Acho que o grande desafio do novo presidente será pagar as dívidas do clube e levantar receitas. Se isso for feito, dificilmente não teremos o melhor triênio do século. Às vezes, me pergunto o que teria acontecido caso Salgado tivesse vencido o pleito de 1997…
Não é difícil perceber que não considerava Salgado a melhor opção, mesmo assim vejo a chapa roxa com igual capacidade para gerir o clube. Minha maior crítica à chapa desde o início da campanha era a falta de mais informações sobre a gestão do futebol. Entendo o organograma e a divisão de profissionais para administrar o elenco masculino, feminino e base, mas acho que gostaria de saber mais sobre o que Jorge pensa para dar rumo a um elenco fragilizado, extremamente, pobre em peças e qualidade. O problema do Vasco não é simples também nas quatro linhas.
O leitor pode se perguntar o porquê desejo, no título, boas-vindas ao século 21 para um clube que teve mais rebaixamentos do que grandes títulos nos primeiros 20 anos do milênio. Acredito que seja a maior oportunidade de nos distanciar da figura de Eurico Miranda. Seus feitos, positivos ou negativos, devem entrar para a história, já que não cabem mais no futebol moderno . Aos seus iguais, é hora de abrir as portas e admitir que o antigo modelo precisa de transformação.
O Vasco pode se transformar e transformar a região ao seu redor, reformar São Januário pode nos levar longe, mas que isso seja feito com a mesma responsabilidade que foi prometida para as finanças. Nosso estádio é o segundo maior patrimônio da instituição, que nossa identidade seja mantida.
O maior patrimônio segue sendo e sempre será aqueles que preenchem as arquibancadas de São Januário. Se Américo Oliveira Cachiço me permite, gostaria de dizer que, enquanto houver um coração em São Januário, o Vasco da Gama será imortal.
Lucas Rodrigues.
Esse texto não necessariamente reflete a opinião do Papo na Colina.