ALÉM DA DOR
Leandro A. Rodrigues
Em maio deste ano, após a derrota para o Operário-PR, escrevi uma crônica, aqui, neste espaço, cujo título era “O ano vai ser longo”. Não sou profeta, mas acertei na mosca. Para nós, vascaínos, o ano está sendo terrível. Estamos sofrendo horrores. Erros individuais primários tiram as nossas vitórias. Desatenção absurda, nos instantes finais, faz-nos perder pontos preciosos. Não entrarei no mérito da arbitragem, pois, caso contrário, ficaremos horas e horas chorando pelo leite derramado.
Na última sexta-feira, dia 24 de setembro de 2021, assim que acabou o jogo contra o Brusque, em que saímos vitoriosos com o placar mínimo (mas primordial), em virtude do belo gol assinalado por Nenê, eu estava extenuado. Parecia que eu havia estado em campo. A tensão a cada bola levantada na área. O medo de sofrer o empate no fim, como já acontecera contra CRB e Cruzeiro, fez-me terminar de assistir ao jogo em pé, sozinho, em minha sala. Um sofrimento digno de uma final de campeonato.
Quando o juiz apitou o término da partida, sentei-me, em silêncio. Com o coração, ainda, acelerado, pude perceber o quão difícil seria conseguir me deitar e dormir tranquilamente. Então, ficou clara uma certeza: ser vascaíno é dar-se por inteiro. A nós, vascaínos, não nos é possível a doação pela metade. Não sabemos amar de forma incompleta. Vivemos, em grau máximo, tudo o que envolve o Gigante da Colina. Vi-me, vou repetir, sozinho, em minha sala, numa sexta-feira à noite, cabeceando as bolas que a nossa zaga não conseguia tirar da área; espalmando, com o Vanderlei, as bolas que chegavam à nossa meta; chutando, para onde o nariz apontava, as bolas que chegavam à meia altura. Com a adrenalina bem alta, disse para mim mesmo: de fato, para o Vascaíno, “o sentimento não para”.
Não quero alimentar esperanças! Não quero escrever um texto em que mostre que a Matemática/Estatística pode ser contrariada. Não quero mesmo! Quero, somente, deixar bem claro que, mesmo não sendo fácil, meu amado Vasco da Gama; ainda que, em alguns momentos, seja tentador abandoná-lo, não o farei, porque o meu amor por ti é indizível.
O poeta português, Fernando Pessoa, em seu poema “Mar Português”, diz que: “Quem quer passar além do Bojador/Tem que passar além da dor”. Para quem não sabe, o Bojador, mencionado no poema, é o Cabo Bojador, que fica na Costa Ocidental da África, e
foi dobrado, pela primeira vez, pelo navegador português Gil Eanes, em 1434. No texto de Fernando Pessoa, o termo possui o sentido metafórico de limite para algo maior e mais sublime. Na verdade, quer dizer que quem quer obter coisas maiores em sua vida, tem que sofrer, passar por dificuldades para valorizar bastante a sua conquista. Independentemente do que venha a acontecer, uma coisa é certa: mais uma vez, pelo Vasco da Gama, estamos passando “além da dor”.
Saudações Vascaínas!