EXANGUE
Leandro A. Rodrigues
Após a impactante derrota (4 x 1) para o Ceará, no dia 30 de novembro de 2020, o jogador Andrey, em entrevista, disse algo que ficou martelando em minha cabeça: “Para esquecer. Tem que sangrar”. Entendi o teor da fala, mas gostaria de fazer, neste texto, algumas considerações acerca dela.
Quando o volante disse que é “Para esquecer”, com toda a sinceridade do mundo, penso o contrário. Diante das grandes quedas é que precisamos estabelecer firmes alicerces. Talvez, o grande problema que tem afligido o nosso Gigante da Colina é exatamente o que disse o jovem atleta: uma constante busca de esquecimento. Desenvolvemos uma memória seletiva. Só nos lembramos das conquistas e dos grandes feitos do passado, mas fazemos questão de nos esquecermos das frustrações do presente. Não podemos nos esquecer! Não podemos mesmo! Não podemos fazer de conta que o problema não existe! No Brasil, acredita-se, sempre, que o fato do recomeço anula o passado. Precisamos aprender com os erros, mas não com construção de frases em tom de clichês. Precisamos, sim, realizar uma verdadeira mudança, sempre, olhando para o que deu errado e, em seguida, realizando de modo diferente. Em minhas aulas de Literatura, constantemente, digo aos meus alunos que não se constrói o futuro, aniquilando o passado. É preciso, urgentemente, que os nossos dirigentes, atletas e nós, torcedores, pensemos nisso. Buscar culpados e fazer de conta que nada aconteceu, sinceramente, não resolve. Apenas adia a chegada de um problema maior. Apenas corrói a estrutura e fundamenta, aí, sim, a destruição.
Em relação ao segundo ponto da resposta do cruz-maltino (“Tem que sangrar”), em meu íntimo, perguntei-me: Até quando? O corpo humano possui, em média, cerca de 5 (cinco) litros de sangue. Claro que a conta mais específica pode ser feita, seguindo a premissa de que há cerca de 75 ml de sangue por quilo de cada indivíduo. Ora, se o torcedor vascaíno levar em consideração os últimos 17 (dezessete anos), certamente, já está exangue (característica daquele que fica sem sangue). Acabaremos por morrer de hemorragia, pois não temos mais de onde tirar sangue. Não temos mais condições de sangrar. De acordo com belíssima matéria, diga-se de passagem, publicada aqui, no Papo na Colina, por Iandra Rocha (https://paponacolina.com.br/2020/12/03/o-vasco-na-era-dos-pontos-corridos-das-14-edicoes-7-o-clube-lutou-contra-o-rebaixamento-veja-numeros/), “o
Vasco, na era dos pontos corridos: das 14 edições, 7 o clube lutou contra o rebaixamento”. Cabe ressaltar, ainda, que houve mais três edições dos pontos corridos, na elite, ou seja, na série A, em que o nosso amado Vasco da Gama esteve ausente, pois, infelizmente, disputou a série B. Como, diante de uma realidade tão avassaladora, é possível falar com o torcedor que é preciso sangrar? Ou melhor… Gostaria de saber: até quando iremos sangrar? Não podemos viver, somente, do nosso glorioso passado, tendo, no presente, como satisfação, apenas, as frustrações dos rivais.
Não é necessário que ocorra mais sangramento!
É, sim, necessário planejamento!
É, sim, necessário união!
Chega de vaidade!
Chega de cada um pensar somente em si!
Infelizmente, não somos capazes, sequer, de realizar eleições presidenciais com celeridade, transparência e clareza. Como queremos que o fim (o resultado de uma partida) seja melhor se o início (uma simples eleição) é, SEMPRE, desastroso?
É necessário ter certeza do que se pretende a longo prazo e continuar firme no propósito!
Como costumo sempre falar: não culpo A, B ou C. No entanto, é imprescindível que saibamos que não se pode fazer suco de laranja, se só temos maçãs. Nada contra a maçã. Todavia, pela lógica, é impossível extrair de algo ou de alguém aquilo que não pode ser ofertado por ele. Eis o motivo pelo qual o planejamento é necessário. Se quero fazer suco de laranja, tenho de me organizar e ter, previamente, em minha casa, laranjas. Caso contrário, terei de me contentar com suco de maçã.
Por fim, gostaria de dizer que, após a eliminação, na quinta-feira (03 de dezembro de 2020), para o “Defensa Y Justicia” da Argentina, enquanto o sono não vinha, em meu interior, ressoava apenas uma certeza: não temos mais de onde tirar sangue, pois o torcedor vascaíno já está exangue.
Saudações Vascaínas!