OUTROS NOMES, MESMO ESPORTE
Leandro A. Rodrigues
Há uma máxima que nós, professores de Língua Portuguesa, ouvimos nos cursos de Letras (principalmente na disciplina de Linguística), enquanto alunos, e, consequentemente, repassamos, depois de formados, aos nossos alunos: “A Língua é um organismo vivo”.
Isso é um fato. Trata-se de uma constatação. É uma certeza. Assim como a Terra é redonda. Assim como dois mais dois são quatro. Assim como as vacinas têm o poder de conter as pandemias. Nós, estudiosos da área, temos a certeza de que “a Língua é um organismo vivo”.
O que isso quer dizer? Simples. As palavras são como roupas: surgem, constantemente, novas formas de expressão, e, inevitavelmente, outras se tornam obsoletas e ficam démodé.
Como o futebol faz parte da nossa sociedade, naturalmente, assiste ao mesmo fenômeno em relação aos termos referentes a ele. Assim, por ser de origem inglesa, o que hoje, no Brasil, denominamos de goleiro, por estas “Terras de Santa Cruz”, já recebeu o nome de goal keeper, guarda-valas, guarda-metas, arqueiro. E, até hoje, nossos irmãos lusitanos chamam-no de guarda-redes.
Destarte, muitas transformações concernentes às outras posições aconteceram, como, por exemplo, o lateral, outrora, era chamado de half e, em virtude de alguns esquemas de jogo (embora não seja a mesma posição), hoje também recebe o nome de ala; o zagueiro central e o quarto zagueiro, central back; o cabeça-de-área era o center-half ou o centromédio e, posteriormente, com o fim das posições fixas de priscas eras, passou a ser chamado de volante; os jogadores do meio de campo, da parte de criação, são, sem dúvida, os que recebem (receberam) os mais variados nomes: meia-direita, meia-esquerda, apoiador, ponta-de-lança, quarto-homem, armador; o centroavante era o center forward; o ponta era, inicialmente, insider, depois passou a ser ponteiro e, hoje (acumulando outras funções), recebe o curioso nome de extremo.
Divirto-me bastante assistindo às transmissões dos jogos atualmente. Percebo as aulas de Linguística materializando-se à minha frente, a cada jogo. Vejo como alguns termos da moda passam a vigorar. Ouço os comentaristas falando que “as linhas estão distantes”. E, em minha memória, é como se o saudoso comentarista Sérgio Noronha dissesse “os setores estão espaçados”. Quando os analistas dizem que “houve uma
transição rápida para o ataque”, parece que o incomparável Luiz Mendes, ainda hoje, está a dizer que “o time deu uma estocada precisa em reação”.
Sei que os debatedores contemporâneos dirão que há diferenças entre o ponta e o extremo. Dirão que não se trata da mesma função desempenhada. E, em minha memória, novamente, virão as sábias palavras, que ouvi nos tempos de universitário, de minhas grandes formadoras (Albertina, Ruth, Maria Lúcia, Maria Tereza, Maria Alice, Luciana e Elen), de que, em Língua, “não existe sinônimo perfeito”.
Desse modo, chego à conclusão de que temos outros nomes, mas o mesmo esporte; já que o futebol também é um organismo vivo que leva as coisas a estarem em constante mutação. Assim como acontece com o meu amor pelo Vasco da Gama, que, diante das grandes adversidades, por mais que pareça impossível, transforma-se, solidifica-se, concretiza-se, atualiza-se e torna-se maior.
Saudações Vascaínas!